O jovem missionário: um portador da alegria do Evangelho
Meus amigos e amigas, filhos e filhas de são Domingos, a vocês, saúde e paz! Como vocês já sabem, o Movimento Juvenil Dominicano no Brasil completa dez anos de caminhada nesse ano. Sem dúvidas, é um acontecimento muito especial para toda a Família Dominicana, pois são os “filhos caçulas” da Ordem dos Pregadores os quais, firmados os pés no carisma dominicano, se esforçam para consolidarem, diariamente, sua vocação como pregadores, atentos da Boa Nova do Evangelho, num tríplice diálogo: com Deus, através da oração; com as realidades divina e humana circundantes do nosso mundo, através do estudo; e com os irmãos e irmãs (especialmente os mais vulneráveis), através do cultivo de uma vida comunitária e fraterna.
Para que esse ano comemorativo não se resumisse apenas a momentos celebrativos e resgates históricos ou memórias dos primeiros jovens que iniciaram sua caminhada junto à Ordem dos Pregadores, a equipe da coordenação nacional, com a ajuda de assessores da Família Dominicana e apoiadores do MJD, planejou e tem trabalhado efusivamente para que nesse ano de 2019 nossa “festa jubilar” seja marcada pela mesma itinerância apostólica que Domingos assumiu em sua vida de pregador.
Entre os dias 8 e 17 de julho, teremos o “Espaço Missionário 10 anos do MJD” na região de Aragominas-TO, que será um momento em que vocês, jovens dominicanos, poderão ter contato com um campo de missão bastante amplo, do qual urgem diversas necessidades, tanto espirituais quanto sociais. Nessa missão popular, basicamente, os participantes vão unir forças com a Igreja local no seu trabalho de evangelização, colaborando assim, na visita às famílias dos residentes (na sua maioria, da região rural), nas atividades motivacionais junto aos jovens da região, buscando tanto uma integração com os agentes de pastoral, como um ser presença de Cristo (que ouve, acolhe, ama) junto a pessoas de uma realidade empobrecida e batalhadora.
Antes de convidá-los formalmente para essa missão, permitam-me, em algumas linhas, discorrer sobre a riqueza dessa experiência que, sem a menor dúvida, pode marcar muito positivamente a vida de vocês, e ser uma espécie de “gás” capaz de animá-los e dar-lhes vigor no engajamento eclesial que vocês já têm nos seus respectivos grupos locais do MJD, como também nas paróquias, movimentos eclesiais e de espiritualidade a que pertencem e se dedicam.
Quando estamos no “nosso espaço”, estamos habituados a viver, pensar, planejar as coisas de acordo com um horizonte específico, limitado. É sempre enriquecedor para nossa escola chamada “VIDA”, avançarmos para águas mais profundas (cf. Lc 5,4), pois é nessa atitude, profundamente evangélica, que podemos nos defrontar com realidades, visões de mundo, dificuldades, novas perspectivas de vida, etc., coisas que jamais veríamos, permanecendo onde estamos. É interessante que era da personalidade de Jesus “ter rodinhas nos pés”: era ativo, dedicado e fiel ao seu chamado dado pelo Pai. (cf. Jo 5,15-17). Ele estava sempre caminhando, conhecendo pessoas, vendo/sentindo suas dores, ouvindo seus clamores; e, quando falava, e agia, fazia de um modo apurado e certeiro, capaz de restabelecer a dignidade e a esperança de viver do seu povo, como também denunciar a opressão e as estruturas de morte. Digamos que esse perfil de Jesus faz d’Ele um “profissional em humanidade”, um modelo universal, de quem devemos nos orgulhar, ainda mais pelo fato de estarmos unidos a Ele no Mistério da Igreja, enquanto batizados e enviados.
Por esse motivo, enquanto cristãos, meus amigos, Jesus nos convida a segui-Lo, o que implica, não somente repetir seus ensinamentos, mas, nos acercando d’Ele (que está vivo e ressuscitado entre nós), deixarmo-nos tocar pelas mazelas humanas, as quais, embora passados mais de 2000 anos, ainda se fazem presentes no nosso mundo, de diferentes formas e níveis. O que nosso Senhor deseja de nós é sermos compassivos, aplicando nossas forças pelas causas do amor, da justiça e da paz, que se iniciam com pequenos gestos e renúncias (Mt 19,21). Eu diria até, começando com uma troca: desfazermos do que temos (nossos apegos, nossos confortos), na convicção de que algo maior (que os nossos projetos pessoais) ao qual nos lançamos, possa dar sentido às nossas vidas. Este fenômeno vivencial é análogo àquele ensinamento de Jesus no qual Ele fala do Reino de Deus, comparando-o a uma pérola preciosa de valor inestimável, pelo qual se vende tudo para adquiri-la (Mt 13,45-46).
Essa “saída vivencial” (mais do que física) que vocês são chamados a fazer participando desse espaço missionário, vai na linha da preocupação pastoral do nosso querido Papa Francisco, que embora tendo 82 anos de idade, possui um espírito despojado e um ímpeto bastante jovial, os quais têm sacudido a Igreja, não a (= nos) deixando acomodar-se. Ele nos recorda que: “Naquele ‘ide’ de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova ‘saída’ missionária. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho. […] A alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária. […] Esta alegria é um sinal de que o Evangelho foi anunciado e continua a frutificar. Mas contém sempre a dinâmica do êxodo e do dom, de sair de si mesmo, de caminhar e de semear sempre de novo, sempre mais além. […] A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém. […] Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa!”. (Evangelii Gaudium, 20.21.23.24).
Alguém poderia dizer: “Ah, eu não sei o que fazer, não tenho tanto conteúdo para passar para o povo!”. Um detalhe importante: é necessário, sem dúvida, um preparo anterior, cujas coordenadas serão dadas pela equipe nacional do MJD aos grupos. Todavia, lembrem-se de que vocês não vão simplesmente levar algo, mas PARTILHAR A VIDA E O QUE TÊM, ou seja, numa atitude de abertura de coração e de espírito para levar, mas também para receber, e trazer de volta, do campo de missão, experiências, reflexões, questionamentos, inquietações, projetos, desejo de voltar, mais laços de amizades, etc. Sendo movidos pelo Espírito Santo que habita em cada um, vocês tem tudo para serem leitores atentos, a partir dos “óculos do Reino de Deus”, da realidade empobrecida que encontrarão. Desse modo, a ação evangelizadora de vocês estará motivada pela Caridade divina, que partilha a alegria de ser amado por Deus, não correndo o risco dessa viagem ser um mero passeio turístico, registrado por fotos e postado nas redes sociais.
Portanto, insisto na PREPARAÇÃO PESSOAL de vocês (começando AGORA) para esses dias de missão, que, a meu ver, deve estar informada pela LEITURA ORANTE DA PALAVRA DE DEUS, a fim de que seus corações estejam focados tão somente no compromisso pastoral e na sensibilidade com o povo que vocês terão contato. Procurem juntos se informarem da realidade local, sua história, para que os grupos, embora não sendo possível a presença de todos no espaço missionário, sintam-se em comunhão com o jovem que participará da missão; e este, por sua vez, sinta-se enviado pelo seu grupo.
Por fim, lanço o convite: desafio vocês a fazerem essa experiência de fé e vida, de serem anunciadores e anunciadoras da Boa Nova do Reino por palavras, mas, sobretudo, por gestos de acolhida e amor em terras tocantinenses. Dizia Dom Orlando Brandes, cheio de entusiasmo, para animar as comunidades de sua diocese: “Bíblia na mão, no coração e pé na missão!” Nesse mesmo espírito, espero encontrá-los em Aragominas em julho! Deus os abençoe e continue iluminando a caminhada vocacional de vocês em nossa Família OP.
Frei Ronivalder Biancão, OP.
Assessor Nacional do MJD-BR
https://juventudedominicana.wordpress.com/2019/03/30/o-jovem-missionario-um-portador-da-alegria-do-evangelho/
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