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quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Ser discípulo e discípula de São Domingos nestes tempos de pandemia

  

Carta das Lideranças Dominicanas no Brasil, por ocasião 
da Festa de São Domingos de Gusmão, a ser celebrada no próximo dia 8. 







 
  04 de agosto de 2020
   São Domingos rompeu com o triunfalismo da Igreja do século 13, que tanto escandalizava os pobres, a ponto de provocar dissidências na Cristandade (cátaros e albigenses, por exemplo). Com seu testemunho, fez radical opção pelos pobres, tornando-se mendicante e, ao fundar o que hoje conhecemos como Família Dominicana, desejou ver a Igreja retornar às suas origens evangélicas. Domingos assumiu e propagou a espiritualidade de Jesus, marcada por sua vida de denúncias das opressões e compromisso com os pobres, o que lhe trouxe inúmeros conflitos pessoais e políticos.

   Muita gente, ainda hoje, se pergunta por que Jesus fez tal opção pelos pobres? A resposta continua óbvia: porque Jesus sabia que todo pobre é, de fato, um empobrecido, ou seja, uma vítima da injustiça social. A pobreza não é uma escolha, mas sempre um estado de carência e, por isso, não há, na Bíblia, um só versículo que diga que ela é agradável a Deus. Ao contrário, ela sempre aparece como um mal, fruto da injustiça que ameaça a vida plena. Assim, Deus não está do lado da pobreza, mas está sempre do lado do pobre, que é um bem-aventurado diante de seu coração e seus olhos.

   Jesus assume a causa dos pobres e, por isso, sua vida foi fundamentalmente política e ele sempre falou do Pai em sentido político. O Deus de Jesus não admite nenhuma ordem política que negue o direito à vida, mas é um Deus que deseja o bem comum e preza por valores como a fraternidade, a solidariedade e o bem-estar de todas as pessoas. Jesus traduziu muito bem esse Projeto: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10,10). 

  A pandemia da Covid-19 é uma séria ameaça à vida humana. Hoje ultrapassamos 95 mil mortes no Brasil, vítimas desta doença! Devido à ineficácia e ao descaso das Políticas Públicas, marcadas pelo imediatismo e pela insensibilidade e irresponsabilidade diante da morte, a pandemia no Brasil é um verdadeiro genocídio, cujos efeitos colaterais desvelam as desigualdades que marcam, há anos, a nossa história nacional: fome, miséria, desemprego, precarização das condições de trabalho, falência de empreendimentos, refluxo da economia, desestabilização do sistema escolar, etc. 
  O que faria Domingos em uma conjuntura como esta, que chegou a vender seus livros, feitos de peles de animais, para salvar peles humanas? O que ele espera de nós, seus seguidores e suas seguidoras? Certamente ele assumiria três atitudes: 

 1ª) Denunciar as causas desse genocídio: o surgimento do vírus por desequilíbrio socioambiental; a inoperância de certos governos (e, no Brasil, especialmente); o sucateamento do Sistema Público de Saúde; a seletividade social das vítimas; enfim, toda a insensibilidade e frieza diante da perda de dezenas de milhares de vidas.

  2ª) Suscitar ações efetivas de solidariedade às vítimas, às suas famílias e aos setores mais vulneráveis da população: organizar mutirões e mobilização popular junto às populações pobres, para aliviar o sofrimento; promover distribuição de cestas básicas e produtos de higiene; ajudar iniciativas como as hortas e cozinhas comunitárias; ministrar cursos profissionalizantes às pessoas desempregadas; facilitar o acesso dos mais pobres aos recursos de internet, entre outras possíveis iniciativas.

   3ª) Realizar ações formativas que levem à ruptura com os diversos fundamentalismos, porque estes se desdobram em violências contra as pessoas vulneráveis pela ação de seu Direitos. 

    Essas atitudes exigem de nós ainda mais: precisamos repensar a nossa missão dominicana. Como filhos e filhas de Domingos, somos discípulos e discípulas de Jesus? Em nossas missões, especialmente junto a Paróquias, Escolas e Movimentos Sociais, estamos sendo capazes de despertar o povo para o alcance da crise socioambiental da Encíclica Laudato Si? Nossa Evangelização é meramente exortativa e sacramentalista ou também mobilizadora em favor das causas dos pobres e em prol da Justiça?

    São questões que devemos responder com uma espiritualidade de compromisso libertador, assumindo a atitude de uma “Igreja em saída”, tão enfatizada pelo Papa Francisco. Nesta perspectiva, precisamos testemunhar uma Igreja que não seja fechada em sua expressão de conforto e omissão, como é o caso de certas estruturas conventuais, fundadas no distanciamento dos pobres e no receio de desagradar aos ricos. 

    Diante de quem bate às nossas portas com fome, chegou a hora de nós, também, “vendermos nossos livros” para alimentar as pessoas famintas, escravas, desempregadas, cansadas e desesperançadas de todo tipo.

    Desejamos a benção divina de saúde e paz a todas e todos. 

    Assinam esta Carta: as lideranças dominicanas do Brasil, a saber: 
    
    • Frei José Fernandes Alves, Prior Provincial da Província Frei Bartolomeu de Las Casas e Coordenador da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil 
   • Irmã Flor de Maria Callohuanca Aceituno, Priora do Mosteiro Cristo Rei 
   • Irmã Jacinta Fátima Souza, Presidente da Federação das Irmãs Dominicanas do Brasil
   • Irmã Solanje Tavares de Carvalho, Priora Provincial das Irmãs Dominicanas de Monteils
   • Irmã Maria do Bonfim, Priora Provincial das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena • Irmã Maria Generosa Barbosa, Priora Provincial das Irmãs Dominicanas da Beata Imelda
  • Irmã Solange Damião, Priora Provincial das Irmãs Dominicanas Romanas de São Domingos
  • Irmã Judite Santana, Priora Provincial das Irmãs Dominicanas de Santa Maria Madalena • Irmã Rosa Pinto, Delegada Geral das Irmãs Dominicanas do Santíssimo Sacramento
 • Irmã Maria de Fátima e Silva, Priora Regional das Irmãs Dominicanas de Melegnano 
 • Irmã Mariza de Fátima Assis, Priora Regional das Irmãs Dominicanas de São José 
 • Irmã Marina Estevam de Jesus, Delegada Provincial das Irmãs Dominicanas da Anunciata 
 • Irmã Maria Cleide Pires de Andrade, Delegada Regional das Irmãs OPs da Apresentação
 • Irmã Judith Gomez, Coordenadora da Casa dos Sonhos das Irmãs OPs do SS. Nome de Jesus 
 • Irmã Lucimar Custodio da Silva, Vigária das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena 
 • Rodrigo Barreto Rodrigues, Coordenador das Fraternidades Leigas Dominicanas 
 • Giovanna Araújo Santos, Coordenadora Nacional do Movimento Juvenil Dominicano – MJD 


Segue o link da "Carta das Lideranças Dominicanas no Brasil":

http://www.dominicanos.org.br/site457/arquivos/4da689f319947d28b18d472e4d414587.pdf

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