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sexta-feira, 22 de outubro de 2021

MULHER CONSAGRADA, ONDE ESTÁ O TEU FOCO?


Abertura do Capítulo da Província CRSD - Brasil

22 a 29 de outubro de 2021👣🌷🥀👣🌷👣

"Lembrem-se dos primeiros dias, depois que vocês foram iluminados"... Hb.12,32



 

Na manhã deste 22 de outubro, realizou-se a abertura do Capítulo da Província CRSD no Brasil com o retiro acompanhado pelo Padre José Adilson. Partilhamos esse nosso fio condutor para os dias que prosseguirão a institucionalizar o Vicariato da Congregação das Irmãs Dominicanas no Brasil. Para cada Irmã é um momento muito profundo de significados e releitura da caminhada num espírito de  UNIDADE no percurso desses 118 anos de presença em território brasileiro. As palavras que nos remetem neste primeiro instante são de FÉ, GRATIDÃO e CORAGEM. Como nos recorda as cartas aos Hebreus, “ "Lembrem-se dos primeiros dias, depois que vocês foram iluminados"... Hb.12,32, aqui estamos à disposição do SERVIR o EVANGELHO em certeza de que estamos no caminho com Jesus, amando-o, escutando-o, em atenção à sua Palavra.

Ao olhar fixo em Cristo que nos faz avançar, recordamo-nos a motivação primeira, de esperança e força do TESTEMUNHO de nossas Irmãs, pioneiras itinerantes que tudo arriscaram e se comprometeram nas decisões previstas por Deus para cada etapa da missão. A nossa vida de discipulado está aberta a acolher e comprometer-se nos passos de PERSEVERANÇA e retornar sempre ao primeiro amor, onde permanece o nosso SIM, o foco de nossa consagração.  









 

sábado, 8 de maio de 2021

Maria, a comunicadora de Jesus

                                                  Nossa Senhora do Rosário, Patrona da Ordem dos Pregadores

Muita gente, muitas comunidades enfatizam títulos e devoções à Maria, mãe, discípula companheira e comunicadora de Jesus. Maria de Nazaré é representada de tantas e diferentes formas: orando, mãos abertas, mãos postas, segurando o Menino Jesus no colo, com véu, sem véu, olhos azuis, morena, indígena, cabocla, etc. Mas, o que marca profundamente Maria como discípula e comunicadora de Jesus é a atitude de estar mostrando o Filho, como em Belém, em Nazaré, no Templo (aos doutores!), nas bodas de Caná (aos apóstolos!), no calvário, entre outras circunstâncias. Ela O mostrou também a José e a João Batista. A missão de Maria, chamada por Dom Pedro Casaldáliga de “Comadre de Nazaré”, foi e continua sendo a de encarnar o Verbo, o Deus Criança, tornando-se assim a comunicadora de Jesus. Com sua fé, Ela se torna interlocutora do Pai, em seu Projeto de enviar o Verbo ao mundo para a libertação da humanidade. Como nos memoriza o Documento de Aparecida1 , “Maria colabora no renascimento espiritual dos discípulos”, pois Ela está sempre no meio do povo (At 1, 14). A “comadre de Nazaré” comunica a nós o Evangelho e nos impulsiona à Evangelização: “ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16), pois Jesus nos comunica o Pai e a Mãe cumpre a missão de nos comunicar o Filho. No próximo dia 16, celebraremos o 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais, ocasião em que seremos convidados e convidadas a refletir sobre a Mensagem do Papa Francisco, intitulada “Comunicar encontrando as pessoas como e onde estão”, fundamentada em João 1, 46; abordagem atual e urgente, especialmente neste tempo de distanciamento físico (e não social, pois a comunicação nos ajuda à proximidade, inclusive para reconhecermos o que é essencial!). Oremos, pois, com Francisco: “Senhor, ensina-nos a ir e vir, a ouvir, a não tirar conclusões precipitadas (...). Ensina-nos a ir aonde não está indo ninguém”. Desejo que a nossa Mesa com São Domingos nos oportunize, particularmente neste mês de maio, a acolhermos, sentirmos e testemunharmos a presença amorosa e questionadora de Maria, mãe, discípula e comunicadora de Jesus. Que esta mesa seja uma Escola mariana em que aprendamos a olhar Maria a partir do Evangelho e das orientações da Igreja, como a escolhida por Deus como co-participante do plano de libertação do povo. Que essa Escola nos ensina a fazermos a experiência de seguir a Jesus Cristo, de amá-lo e de torná-lo conhecido ao mundo; eis a nossa vocação, eis a nossa missão, as quais estamos convocados e convocadas a renovar e reprojetar – se for o caso – neste Jubileu dos oito séculos da Páscoa de São Domingos de Gusmão. Não custa lembrar: a nossa espiritualidade dominicana possui uma forte marca mariana!

 Frei José Fernandes Alves, OP. - Prior da Província "Bartolomeu de Las Casas" - Brasil. 

8 de Maio - NOSSA SENHORA, PADROEIRA DA FAMÍLIA DOMINICANA

    Hoje, 8 de maio, a Família Dominicana celebra a memória de Nossa Senhora, nossa padroeira.

Nossa Senhora, Padroeira da Ordem dos Pregadores
No precedente calendário da Ordem, festejava-se essa festa no dia 22 de dezembro, aniversário da confirmação da Ordem pelo Papa Honório III (22 de dezembro de 2016). A fim de não interromper a preparação do Natal, a celebração da Padroeira da Ordem foi transferida para o mês de maio, tradicionalmente consagrado a Maria. Podemos lembrar-nos das palavras de Humberto Romano: “A bem-aventurada Virgem Maria foi a ajuda principal na fundação da Ordem... e esperamos que ela a conduza a um porto seguro”. (Do Missal OP).
Aproximemo-nos com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna. (Heb 4, 16).
Que o amor profundo de São Domingos de Gusmão pela Mãe de Deus inspire a nossa vivencia e o zelo apostólico na missão de cada dia.
ORAÇÃO
Ó Deus, quisestes que a Ordem dos Pregadores
fosse instituída para a salvação das almas
e cumulada de contínuas graças
pelo patrocínio singular da Virgem Maria.
Concedei-nos, vos pedimos,
que, ao celebrarmos hoje o seu patrocínio,
cheguemos, protegidos por ela, à glória celeste.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho
na unidade do Espírito Santo. Amém.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Procurar Jesus e encontrá-lo


"Você está procurando Jesus de Nazaré, o Crucificado? 
Ele ressuscitou: ele não está aqui. (M 16,6)


* Por Irmã Therese Marie Boillat



Nós somos os discípulos do Ressuscitado! Não do homem crucificado! Às vezes é tão difícil acreditar no Ressuscitado... Então vamos olhar para as mulheres do Evangelho, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé.

Elas correm para o túmulo, este lugar de memória, onde elas serão capazes de reviver o passado, para lembrar de Jesus, este rabino tão extraordinário. É aqui que elas pensam em "encontrá-lo" ... pelo menos seu corpo. O túmulo? vazio! O primeiro passo nesse caminho para a Ressurreição é o seguinte: descobrir uma ausência e sentir uma grande dor. Onde é que ele está? Nós não vemos isso. Lá está ele, no entanto, aquele que parece ausente, está Vivo. Passar da primeira ausência - o corpo desaparecido no túmulo - para a segunda ausência que está gradualmente presente - a descoberta do Senhor Ressuscitado - as mulheres, e depois delas Pedro e João, tiveram que "mover-se", começar, correr, buscar, até mesmo obstinar... não há encontro com o Senhor se não há procura, busca do caminho, seja externo ou interno.

As mulheres em frente ao túmulo vazio não só estão chateadas e amedrontadas, mas totalmente perplexas. E agora, para onde ir, para onde procurar? Maria de Madalena chora desesperadamente. Sem solução, sem abertura, sem futuro... No entanto, é aqui que o Ressuscitado nos espera, onde ele nos espera quando tudo parece perdido. Não estamos também neste momento de uma pandemia que está perturbada, desencorajada e perdendo a fé?

Meditando sobre a forte experiência de ausência feita pelas mulheres, encontraremos forças para dar esse salto à fé. Como? Ouvindo o anúncio do evangelista São Marcos "Você está procurando Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ele ressuscitou: ele não está aqui. (M 16,6) E em São Lucas "Por que você procura os Vivos Entre os Mortos? Ele não está aqui, ele ressuscitou. Lembre-se do que ele lhe disse... (Lc 24.5-6).

Lembre-se... é trazendo as palavras de Jesus de volta aos seus corações que as mulheres gradualmente recebem a luz e entendem o significado da morte de Cristo e o significado de sua própria "morte". É a Palavra que nos ajuda a reler nossa história, a entender quem Jesus realmente é, sua misteriosa presença em nossas vidas, sempre... e especialmente nos "golpes duros".

Lembrar as palavras de Jesus, seus gestos, é o caminho para a Ressurreição para fortalecer nossa fé e nossa esperança. Lembre-se de suas palavras, invoque o Espírito Santo para se tornar "fogo" e "vida" em nós, adere a elas com alegria e coloque-as em prática... para viver como discípulos do Ressuscitado.

"Quando abrimos o livro da Palavra, Deus vem caminhar conosco", disse Santo Ambrósio.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

VIDAS NAS NOSSAS VIDAS

A FÉ SE ALIMENTA DE ESPERANÇA, E NAS PEQUENAS COISAS O SENHOR FALA DA VIDA.


Nesta manhã de sexta-feira da Paixão, com o Povo em Situação de Rua, a equipe da pastoral celebrou a PÁSCOA DA CRUZ.
 
O crucificado está entre nós... Do amor incondicional de Cristo presente em nossas lutas de cada dia, encontramos muitos rostos desfigurados, descartados e abandonados. Pedidos de paz, saúde e vida das pessoas é o sentido dado à crucificação de Cristo, em resgate de todos.
 
“ A verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores; e nós pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado! ” ( Is 52,4)

A cruz de Cristo segue adiante de cada passo, eis a bandeira que se ergue em cantos e gestos de fé e compromisso da caminhada.


























 
Seu nome é Jesus Cristo e passa fome
E grita pela boca dos famintos
E a gente quando vê passa adiante
Às vezes pra chegar depressa a igreja
Seu nome é Jesus Cristo e está sem casa
E dorme pelas beiras das calçadas
E a gente quando vê aperta o passo
E diz que ele dormiu embriagado
Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos
Seu nome é Jesus Cristo e é analfabeto
E vive mendigando um subemprego
E a gente quando vê, diz: "é um à toa
Melhor que trabalhasse e não pedisse"
Seu nome é Jesus Cristo e está banido
Das rodas sociais e das igrejas
Porque d'Ele fizeram um Rei potente
Enquanto Ele vive como um pobre
Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos
Seu nome é Jesus Cristo e está doente
E vive atrás das grades da cadeia
E nós tão raramente vamos vê-lo
Dizemos que ele é um marginal
Seu nome é Jesus Cristo e anda sedento
Por um mundo de Amor e de Justiça
Mas logo que contesta pela Paz
A ordem o obriga a ser de guerra
Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos
Seu nome é Jesus Cristo e é difamado
E vive nos imundos meretrícios
Mas muitos o expulsam da cidade
Com medo de estender a mão a ele
Seu nome é Jesus Cristo e é todo homem
E vive neste mundo ou quer viver
Pois pra Ele não existem mais fronteiras
Só quer fazer de todos nós irmãos
Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos. 

Páscoa da Cruz...

Meditação para a 6a feira santa

* Por Marcelo Barros


Neste dia em que celebramos a Páscoa da Cruz, é uma graça divina mas também uma responsabilidade escutar a boa nova contida na narrativa da paixão de Jesus segundo João. (Jo 18 e 19). Ela se diferencia das outras versões da paixão. Enquanto os outros sublinham os sofrimentos de Jesus, o quarto evangelho prefere mostrar como, mesmo no meio de todo sofrimento, Jesus tem a iniciativa de ir dirigindo os acontecimentos. Enquanto Marcos, Mateus e Lucas conta que Jesus passou por um momento de agonia e angústia no Horto das Oliveiras, João conta que, no jardim de Getsêmani, é o próprio Jesus, que vai ao encontro dos soldados e toma a iniciativa de perguntar: A quem procurais? E quando os soldados dizem: Jesus de Nazaré, Jesus responde Sou eu, a mesma palavra que define o nome divino no Êxodo. Ao ouvir essa palavra, são os soldados que caem e Jesus que fica de pé. Do mesmo modo, é Jesus que se proclama a Pilatos como sendo testemunha da verdade do reino do Pai. De acordo com esse evangelho (e é o único dos quatro evangelhos que diz isso), foi ao inclinar a cabeça para expirar que Jesus nos entregou o Espírito.

Que sentido tem para nós hoje receber em nossas vidas esse evangelho com essa visão aparentemente pouco histórica e mais teológica da paixão de Jesus que o quarto evangelho chama de “exaltação do Filho do Homem”?

Quando o relato desse evangelho nos fala da cruz vitoriosa de Jesus é para nos ajudar a ver que o amor e a solidariedade podem tornar vitoriosas as lutas dos pequenos por justiça e por paz. Na cruz Jesus nos entrega o seu espírito que é o Espírito Santo para nos animar nessa luta para que venha a esse mundo o reino de Deus.

Adorar o Cristo na cruz é proclamar que Jesus morreu na cruz para que todos possam viver e nunca mais ninguém morrer na cruz. Jesus morreu na cruz para que nós todos lutemos para descer da cruz os oprimidos e perseguidos que até hoje continuam crucificados. Nós celebramos a crucifixão para descrucificaros crucificados de hoje.

A cruz de Jesus é esse sofrimento assumido por missão, por amor e solidariedade a todos os seres humanos, especialmente aos mais pobres. Na carta aos filipenses, o apóstolo Paulo afirma que há cristãos que se comportam como “inimigos da Cruz” (Fl 3, 18). No contexto daquela comunidade, parece que se tratava de irmãos que reduziam a vida de fé à observância da lei judaica e aos ritos religiosos e preceitos legais (Paulo chega a dizer que o deus deles é o ventre, no sentido de que eles só se preocupam com as normas alimentares judaicas – alimento kosher, etc). Atualmente, penso que temos cristãos e mesmo ministros e pastores que se comportam como inimigos da cruz de Jesus. São os que reduzem a cruz a um sacrifício religioso e não testemunham a força da Cruz como expressão do amor divino por todas as vítimas do mundo econômico e político de hoje.

Em El Salvador, o bispo São Oscar Romero celebrava a paixão de Jesus contemplando a paixão dos pobres no mundo atual. Não para dizer: são santos porque estão na cruz e assim depois de mortos vão para o céu.Não. Ele apontava que o povo estava crucificado e que a obrigação de quem tem fé é fazer tudo, o possível e o impossível para tirá-los da cruz. Por isso, ele, Romero, também foi martirizado como Jesus e agora o papa Francisco o canonizou. Pela mesma causa, aqui no Recife, em 1969, há 50 anos, o padre Antônio Henrique foi morto pelos agentes da Ditadura Militar e Dom Helder Camara foi perseguido e marginalizado durante grande parte de sua vida.

De fato, continuamos a viver em um mundo no qual imensa parte da humanidade está sendo crucificada pelo poder econômico que domina o mundo e beneficia uma minoria de menos de 5% da humanidade. Por isso, mais de um bilhão de pessoas no mundo passam fome, mais um tanto sofre carência de água potável, milhões de migrantes que não são reconhecidos como pessoas humanas. E a própria Terra, nossa casa comum, como diz o papa Francisco, está sendo crucificada e ferida pela ambição humana.

Apesar de todas as dificuldades e dos fracassos que nos sobrevêm diariamente, a nossa fé nos pede que levantemos a cabeça, renovemos a esperança e possamos descobrir a vitória pascal de Jesus ocorrendo em meio às nossas lutas interiores e morais, assim como nas lutas sociais por políticas públicas de qualidade que beneficiem a todo o povo. É a Campanha da Fraternidade desse ano. É a tradução da vitória da cruz.

O evangelho de João revela que, mesmo na Cruz, Jesus se preocupa com sua mãe ali chorando ao pé da cruz e com o discípulo amado que representa todos nós, discípulos e discípulas. E assim como Lucas revela Jesus perdoando os seus algozes e inimigos, João nos mostra Jesus nos dando o seu Espírito mesmo quando teria motivos de se sentir abandonado e meio traído pelos próprios discípulos. Essa atitude de amor não violento e paciente é o que ele pede de nós na nossa militância. Nós aprendemos desse relato da paixão que o que Deus nos pede hoje é rever e corrigir nossas atitudes de intransigência e intolerância que não nos tornam radicalmente diferentes dos nossos adversários. Quando visitei o presidente Lula na prisão, escutei dele a preocupação: “Eu quero viver a indignação que é justa diante da injustiça, mas sem ódio nem amargura no coração”. E eu lhe respondi: “É por isso que você resiste sem entrar em depressão”.

Em seu livro Jesus Libertador, o teólogo Jon Sobrino, traduz o pensamento do mártir Monsenhor Romero em El Salvador e escreve: “Toda violência, mesmo a que pode chegar a ser legítima, tem um potencial desumanizante. A violência desata uma lógica interna que termina destruindo mesmo quem a exerce. (...) Mesmo se, como última reação de defesa e para impedir um mal pior, a violência possa ser compreensível, como regra geral e método de vida e de ação, é preciso não ceder e rejeitar qualquer ato, gesto, palavra que abra a porta à violência, seja física, seja psicológica, seja simbólica. Só quando aderimos à utopia da paz e começamos a vivê-la cotidianamente no nosso modo de ser e de viver, estamos do lado de Jesus e vivendo como discípulos e discípulos dele” (Cf. Sobrino, 1992, p.316).

SEXTA-FEIRA SANTA DA PAIXÃO DO SENHOR

Neste dia, colocamo-nos ao caminho do silêncio e, como peregrinos, acompanhamos a entrega de Jesus. Vivemos em comunhão com o mundo inteiro ao aproximar-nos do grande mistério da Páscoa da Cruz.

Meditamos e refletimos a partir da proposta de oração do Passo-a-rezar: 



Nas palavras do Evangelho, João 18, 1-8; Jo 18, 19-24; Jo 18, 25-27; Jo 19, 30-34 - o tempo de oração se prolonga em cada passo de Jesus. Há encontros e desencontros, em palavras e silêncios.

Jesus saiu com os seus discípulos
para o outro lado da torrente do Cédron. Havia lá um jardim, onde Ele entrou com os seus discípulos. Judas, que o ia entregar, conhecia também o local, porque Jesus se reunira lá muitas vezes com os discípulos. Tomando consigo uma companhia de soldados e alguns guardas, enviados pelos príncipes dos sacerdotes e pelos fariseus, Judas chegou ali, com archotes, lanternas e armas. Sabendo Jesus tudo o que lhe ia acontecer, adiantou-Se e perguntou-lhes:
«A quem buscais?».
Eles responderam-Lhe:
«A Jesus, o Nazareno».
Jesus disse-lhes:
«Sou Eu».

Judas, que O ia entregar, também estava com eles. Quando Jesus lhes disse: «Sou Eu», recuaram e caíram por terra. Jesus perguntou-lhes novamente:
«A quem buscais?».
Eles responderam:
«A Jesus, o Nazareno».
Disse-lhes Jesus:
«Já vos disse que sou Eu. Por isso, se é a Mim que buscais, deixai que estes se retirem».

Judas entrega-se à medida dos sonhos de um homem só, de maneira rompante e sonora. Jesus entrega-se por absoluto amor a todos os Homens, de forma silenciosa e desinstaladora.
De que são feitas as tuas ilusões?

O sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Jesus respondeu-lhe:
«Falei abertamente ao mundo.
Sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Porque Me interrogas? Pergunta aos que Me ouviram o que lhes disse: eles bem sabem aquilo de que lhes falei».
A estas palavras, um dos guardas que estava ali presente
deu uma bofetada a Jesus e disse-Lhe:
«É assim que respondes ao sumo sacerdote?».
Jesus respondeu-lhe:
«Se falei mal, mostra-Me em quê. Mas, se falei bem, porque Me bates?».
Então Anás mandou Jesus manietado ao sumo sacerdote Caifás.


Jesus é claro nas suas palavras. Só o interrogam aqueles que não estão dispostos à verdade e se sentem ameaçados pela sua coerência.
O que é para ti viver em verdade? Estás disposto a atravessar todas as implicações que daí resultam?


Simão Pedro continuava ali a aquecer-se. Disseram-lhe então:
«Tu não és também um dos seus discípulos?».
Ele negou, dizendo: «Não sou».
Replicou um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha:
«Então eu não te vi com Ele no jardim?».
Pedro negou novamente, e logo um galo cantou.

Pedro procura o calor reconfortante da fogueira mas o frio da solidão devora-o. Ele segue Jesus à distância por se ter deixado levar pelo medo. Desconfia e perde a esperança.
Viver unido a Deus exige uma sólida confiança que tem de ser cuidada continuamente. Pedro fraquejou naquele momento. E tu, dás a fidelidade por garantida?


Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou:
«Tudo está consumado».
E, inclinando a cabeça, expirou.
Por ser a Preparação,
e para que os corpos não ficassem na cruz durante o sábado,
– era um grande dia aquele sábado –
os judeus pediram a Pilatos
que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados.
Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro,
depois ao outro que tinha sido crucificado com ele.
Ao chegarem a Jesus, vendo-o já morto,
não Lhe quebraram as pernas,
mas um dos soldados trespassou-lhe o lado com uma lança,
e logo saiu sangue e água.

Jesus deixa-Se humilhar até ao fim mas o seu amor não se esgota. Da sua morte brota sangue e água, aproximando-nos do choro da terra e dos mais pobres. Permanece, em proximidade.


Ao terminar este tempo, reze com a Oração da Sede, de D. Tolentino de Mendonça:



«Ensina-me, Senhor, a rezar a minha sede
a pedir-Te não que a arranques de mim ou a resolvas depressa
mas a amplies ainda
naquela medida que desconheço
e que apenas sei que é Tua!

Ensina-me, Senhor, a beber da própria sede de Ti,
como quem se alimenta mesmo às escuras
da frescura da nascente.

Que a sede me torne mil vezes mendigo,
me ponha enamorado e faça de mim peregrino
Que ela me obrigue a preferir a estrada à estalagem
e o aberto da confiança ao programado do cálculo.


Que esta sede se torne o mapa e viagem,
a palavra acesa e o gesto que prepara
a mesa onde partilhamos o dom.


E quando der de beber aos teus filhos seja
não porque tenha a posse da água
mas porque partilho com eles o que é a sede».

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.



quinta-feira, 1 de abril de 2021

O SENTIDO É A DOAÇÃO DA VIDA, CARINHO E CUIDADO COM O OUTRO


Quinta-feira santa hoje... Morrer de Amor!





* Por Marcelo Barros

"O Mestre manda dizer: Quero celebrar a Páscoa na tua casa". Assim o evangelho de Mateus começa o relato da ceia de Jesus, cuja memória celebramos especialmente nesse dia. Naquele tempo, foi o recado que Jesus mandou os discípulos dizerem a um homem que passava carregando uma bilha de água. Hoje, somos nós que recebemos esse recado: O Senhor quer celebrar essa Páscoa em tua casa, na minha casa, seja a casa mais pessoal de cada um que é o corpo, a pessoa mesmo, seja a casa que é nossa vida social, nossa família, nosso país, a Terra, nossa casa comum, como diz o papa Francisco...

O que significa concretamente isso? Páscoa significa passagem, passo. Deus dá um passo para nos fazer também dar passos. Passos na nossa vida concreta. Passos de humanização e de amor. Jesus viveu isso. Em primeiro lugar, ao unir os discípulos em uma ceia de partilha e propor essa ceia como forma de sua presença entre nós. Doação da vida uns aos outros e comunhão. Infelizmente, a maioria das missas que serão celebradas hoje parecerão mais um culto qualquer, centralizado na figura do celebrante principal e de forma tão hierarquizada que não consegue mais passar a atmosfera de amor e carinho que Jesus viveu com os discípulos e discípulas na sua ceia. Oro para que as Igrejas possam retomar a simplicidade de reviver a ceia de Jesus de um modo mais simples e evangélico.

Na celebração dessa tarde, começo do Tríduo Pascal, as comunidades lerão o evangelho de João (13, 1 - 14) que conta como Jesus, ao se colocar na ceia, tomou uma toalha e lavou os pés dos discípulos (e certamente discípulas). Era uma profecia da sua entrega de vida. O evangelho usa as mesmas expressões - ele depôs a roupa - diz isso para o lava-pés e repete a mesma expressão na hora em que ia ser crucificado. E outras expressões assim.. Tem até a negação de Pedro: Nunca haverás de me lavar os pés.... Nunca irei negar que te conheço... Então, fazer esse gesto carinhoso e de serviço o mais humilde que um servo pode fazer - e Jesus fez com os seus - era uma forma de, como diz o Evangelho, "tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim", ou seja, foi até onde o amor pode ir.
Nós também somos chamados a ir até onde o amor pode ir. Viver e praticar o amor até onde o amor pode chegar.
Disponível em:




Caminhos para a Páscoa do Senhor...


1º de Abril -  Quinta-feira Santa da Ceia do Senhor.






No contexto do mundo, o Povo da Aliança continua a sua peregrinação à Terra Prometida, em busca de um novo tempo, o anseio pela vida. O desejo de uma resposta para os perigos e feridas da doença, da pobreza, do desemprego, da fome... vencer a morte!

À mesa com Jesus, recorda-se a memória do mandamento: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também» (Jo.13, 3-15).

A novidade de Jesus convida aos passos de conversão por atitudes de cuidado do outro. Em sinal de humildade, Jesus se inclinou e começou a lavar os pés de seus discípulos. Porém, os gestos e palavras do Mestre e Senhor inquietam o não saber, o não compreender da mente humana. Também hoje, essa inquietude e aflição de Jesus transparece em clamor, em meio a tantas mortes e sofrimentos. São muitas vidas perdidas, no mundo inteiro e especialmente no Brasil, 3950 mortos! Qual a semelhança desejosa da sociedade atual com a mesa partilhada com Jesus, na última ceia?

Na mesa com o Mestre encontra-se a percepção de uma travessia de esperança e do serviço. Para isso, é preciso o reconhecimento da fraternidade capaz de gerar a vida e o compromisso pelo outro. As dores e lágrimas estão presentes e, também a ternura de Deus. Jesus ensina que há uma realidade nova em aspectos de fragilidade, cuidado e declínio do interior de cada pessoa. A grandeza do amor se constrói ao contemplar e servir o outro. Em mesmo sentido, sentir que todos possuem as suas feridas a curar-se, a deixar-se cuidar.

No decorrer da ceia [...], direciona-se o olhar para a pessoa de Jesus com atenção nos gestos, ao cuidado com que Ele lava os pés aos seus discípulos. O movimento de Jesus autentica a sua missão de amor e ensina aos que querem segui-lo a fazer o mesmo, dando a centralidade da partilha, a atenção e serviço de reconstruir-se nas relações de vida, em volta à mesa da fraternidade.

Ir.Luciana, OP

segunda-feira, 29 de março de 2021

Betânia: casa de encontro, comunidade de amor

 



Segunda-feira da Semana Santa

* Por Adroaldo Palaoro
O perfume derramado por Maria é o símbolo da vida e do amor da comunidade que exalam bom odor. É um amor que não tem preço e estará sempre voltado para os pobres Foto (LUMO project)
+ Busque o seu "lugar sagrado" para iniciar a sua oração. Pacifique o seu coração, respirando em profundidade ou ouvindo os sons ao seu redor. Faça sua oração preparatória, a composição vendo o lugar e a graça a ser suplicada.
+ Antes de entrar em contemplação, leia serenamente os pontos abaixo:
- Estamos entrando na Semana Santa, a semana da páscoa de Jesus, da sua passagem deste mundo para o Pai (Jo 13,1). A liturgia de hoje coloca diante de nós o início do capítulo 12 do Evangelho de João, que faz a ligação entre o Livro dos Sinais (cc 1-11) e o Livro da Glorificação (cc.13-21).
Neste início de Semana Santa, o Espírito nos leva a viver Betânia, a ser Betânia, a assumir Betânia. Ali acontece uma ceia de ação de graças a Jesus pelo dom da vida.
Esta ceia é o símbolo do triunfo da vida sobre a morte. E essa força da vida se expressa no Evangelho de hoje mediante símbolos de vida: a mesa compartilhada, a amizade servidora de Marta, o perfume especial de Maria, a unção dos pés de Jesus, a fragrância que enche a casa.
Jesus quis celebrar o dom da vida em plenitude. Também é vida a amizade, a gratidão, a refeição, o perfume que invade tudo.
- Betânia é "casa dos pobres" (Beth-anawim): nela, em primeiro lugar, habitam nossas pobrezas pessoais e comunitárias, nossa pequenez abençoada e nossa fragilidade enaltecida. Mas também onde as pobrezas de nosso mundo, da humanidade têm lugar, e tocam nosso estilo de viver, de nos relacionar, de nos confrontar em nosso seguimento de Jesus.
Somos convidados a entrar na casa em Betânia: casa de encontro, comunidade de amor e coração de humanidade: com Jesus Mestre, com Marta, Lázaro e Maria, aquela que quebra o frasco e derrama o perfume nos pés de Jesus. A casa é o lugar da comunidade do ressuscitado, é a casa do Pai (14,2).
- Aqui, no centro do Evangelho de João, a comunidade, reconstruída no amor, exala o bom perfume que enche toda a casa. Em lugar do cheiro da morte, a casa enche-se do aroma de perfume. O perfume derramado por Maria é o símbolo da vida e do amor da comunidade que exalam bom odor. É um amor que não tem preço e estará sempre voltado para os pobres. As comunidades de Jesus estabelecem-se no espaço humanizador das casas, e não no espaço "oficial do sagrado" (templo).
- Betânia é o "templo" onde Jesus percebe a presença e o agir de Deus nos fatos mais simples da vida cotidiana. Betânia é para Jesus um prolongamento de Nazaré, o lugar do cotidiano, do pequeno, do simples: o lugar da revelação.
Marta e Maria expressam sua amizade e fazem com Jesus o que Ele logo fará com seus discípulos no momento de sua despedida: os serve à mesa e lava seus pés. Jesus se deixou fazer, para poder fazer isso com outros e quis tomar os gestos destas mulheres para fazer memória de sua vida. Impressiona-nos que neste relato elas não falam, e expressam todo seu amor "mais em obras que em palavras".
- Na unção em Betânia, Maria pode ser considerada como um ícone da nova sensibilidade que o Evangelho nos oferece. Ela está dotada de uma sensibilidade muito superior à dos discípulos e à dos demais comensais, tanto para perceber o que acontece como para expressar seus sentimentos com admirável fineza e liberdade.
Os dirigentes judeus andavam buscando uma ocasião para matar Jesus. Maria, certamente havia escutado os rumores que chegavam da vizinha Jerusalém e circulavam em voz baixa entre as pessoas do povo. Ela sintoniza com este momento dramático. Sua criatividade feminina encontrou no perfume um símbolo para expressar com grande delicadeza o que esse momento transbordava seu coração. Maria investe num gesto gratuito e desmedido, expressão de um amor exagerado.
O excesso de seu gesto sintoniza perfeitamente com o amor sem medida de Jesus, mas ultrapassa a limitada capacidade de compreensão dos presentes à mesa, sobretudo Judas Iscariotes.
Somos convidados a entrar na casa em Betânia: casa de encontro, comunidade de amor e coração de humanidade:
Com Jesus Mestre, para nos fazer mais humanos e próximos;
Com Marta, para professar a fé e a servir na diaconia;
Com Lázaro, para passar da morte à vida e caminhar na liberdade do Espírito;
Com Maria, para quebrar os frascos e a derramar o perfume da escuta e do amor.
+ Betânia é também lugar de interioridade, onde se internalizam os processos de humanização, onde surge a humanidade nova, atitudes mais humanas e humanizantes; lugar onde pulsa a Humanidade com toda sua força e onde volta a circular o sangue-vida. Criar Betânia em nosso interior e em nossas casas: lugar da mesa compartilhada, da unção e do cuidado; ambiente que exala perfume do amor, gratidão, amizade.
Podemos visualizar nossa vida como um frasco cheio de perfume que nos foi entregue gratuitamente por Deus para que lhe respondamos com nosso agradecimento e alegria e para que muitos outros possam participar disso.
+ Como preparação para a contemplação, leia uma ou duas vezes o texto do Evangelho indicado para este dia (Jo 12,1-11).
+ Com a imaginação, faça-se presente à casa em Betânia; procure olhar atentamente cada uma das pessoas (Jesus, Lázaro, Marta e Maria); sinta o clima de alegria e amizade; procure escutar o que elas dizem; observe as reações, gestos, acolhida das pessoas ali presentes. Sinta o perfume do frasco quebrado tomando conta da casa. Participe ativamente da cena, conversando, perguntando, ajudando a servir.
+ Faça um colóquio com Jesus, falando do clima "pesado" que existe em Jerusalém, pois estão à procura dele para matá-lo. Permaneça aí, deixando-se impactar pelo clima humano reinante nesta casa.
+ Finalize sua oração, dando graças por esta convivência amistosa. Leia o Salmo indicado.
+ Registre no caderno de vida os sentimentos predominantes durante a oração.
*Adroaldo Palaoro é padre jesuíta e atua no ministério dos Exercícios Espirituais. Reflexão do Evangelho de João 12,1-11 da Segunda-feira da Semana Santa





A ESPERANÇA MESSIÂNICA DA NOSSA CAMINHADA


Meditando a Celebração dos Ramos

*Por Marcelo Barros


Na liturgia latina, seguida por várias Igrejas no Ocidente, a celebração do “Domingo de Ramos” junta elementos de duas liturgias diferentes e aparentemente opostas. Nos séculos IV e V, a Igreja de Jerusalém celebrava neste domingo a entrada festiva de Jesus na cidade. Fazia-se uma procissão com ramos como para reencenar a entrada festiva em Jerusalém como início das celebrações pascais. Na mesma época, neste mesmo domingo, a Igreja de Roma ainda não celebrava a morte de Jesus na sexta-feira santa. Não existia ainda o Tríduo Pascal. Então, se celebrava em um domingo, a Paixão (era hoje) e no próximo, a ressurreição.
Assim sendo, neste mesmo domingo, havia duas liturgias aparentemente opostas: a celebração festiva da Igreja de Jerusalém, como celebrando a realeza de Jesus e a de Roma no clima de sexta-feira santa, na qual se lia como evangelho o relato da Paixão. A liturgia latina atual juntou as duas. Começa com o rito de ramos e proclama o evangelho de Marcos 11, 1- 10. É um ambiente festivo que tem até procissão. Depois, vem a Missa do Domingo da Paixão, neste ano B, com o relato da paixão segundo Marcos (Marcos 14, 1 a 15, 47). Como muitos outros falarão da paixão, peço permissão para meditar o evangelho lido para a celebração de ramos: Marcos 11, 1- 10.
O relato da entrada de Jesus em Jerusalém é contado de forma simbólica e viva. Parece teatro de rua. O evangelho conta que Jesus prepara tudo em detalhes. Manda dois discípulos pegarem emprestado um jumentinho e Jesus entra em Jerusalém, montado no jumento e aclamado pelo grupo de peregrinos que com ele entra na cidade. Esse gesto simbólico reúne um grande grupo de peregrinos vindos do campo, da Galileia... O evangelho explicita: "ramos trazidos do campo". Aclamar com ramos nas mãos e cantar o salmo 118 do qual vem o grito do povo: "Hosana, Bendito o que vem em nome do Senhor", eram costumes da liturgia da festa das Tendas. Talvez, essa entrada festiva tenha ocorrido em uma ida de Jesus para uma festa das Tendas e o evangelho a tenha transportada para o contexto da Páscoa. No Judaísmo, a festa das Tendas é a recordação da caminhada do povo no deserto e alimenta a esperança messiânica da libertação. Jesus ter entrado na cidade daquele modo o colocava como Messias. O fato das pessoas estenderem mantos nas ruas para Jesus passar era gesto conhecido que se realizava com libertadores políticos. A palavra Hosana poderia significar “Liberta-nos do opressor (romano)”.
A cena parece manifestação política de um grupo subversivo que, simbolicamente e de forma não violenta, se apodera da cidade. Marcos situa o evento na entrada da cidade pelo Oriente, o que para a tradição bíblica é significativa. O Monte das Oliveiras, por onde ele chega, foi o local da vitória do povo contra os sírios na época dos macabeus.
Tudo isso pode provocar duas interpretações. A primeira é imaginar que Jesus tenha se apresentado como Rei Messias. Durante toda a sua vida, Jesus rejeitou o título de Messias e menos ainda de rei. Será que, de repente, na entrada para Jerusalém, ele teria aceitado? Se foi assim, finalmente, Jesus cedeu ao modelo de missão que, desde o começo, os discípulos sempre quiseram. Era o que a multidão desejava, mas ele nunca tinha aceitado: ser rei e messias. Acho essa leitura problemática
A segunda interpretação seria uma releitura mais política do evangelho. A cena da entrada de Jesus em Jerusalém seria uma manifestação zelota e revolucionária. Jesus teria entrado na cidade como messias rebelde contra o império romano. É possível que os sacerdotes e religiosos do templo tenham entendido nesse segundo sentido, tanto que o evangelho de Lucas conta que eles teriam dito a Jesus: “Manda os teus discípulos se calarem”. Jesus teria respondido: “Se eles se calarem, até as pedras gritarão”.
Sem dúvida, para o povo do interior que subia a Jerusalém para a Páscoa e acompanhou Jesus naquela entrada na cidade e também para os discípulos de Jesus, aquela cena serviu para animar a esperança messiânica, ou seja, a expectativa de uma intervenção libertadora de Deus que viria salvar o povo. Mas, para Jesus o que significou e o que ele quis dizer com aquela cena? E o que ela pode dizer para nós, hoje?
É certo que Jesus aparece ali como profeta resistente que entra em Jerusalém para enfrentar o poder religioso e político. No capítulo anterior do evangelho de Marcos, ele tinha identificado os discípulos como os pequeninos do reino, os pobres do mundo. No entanto, como ele faz isso não é a de quem assume para si títulos como Messias e rei.
O único termo que ele usa e já usava antes é Filho do Homem, que, em algumas passagens significa um representante humano de Deus e em outras quer dizer qualquer ser humano. Para Jesus, o Filho do Homem é Ele, mas é também todo ser humano. Ele encarna o humano como pobre e pequeno. Na sua entrada a Jerusalém, Jesus assume o messianismo coletivo que vê a figura do Messias não como um Filho de Davi, da família real e sim como a humanidade dos peregrinos pobres que entram com ele em Jerusalém. Uma humanidade que hoje é classificada como descartável é colocada como sujeito da transformação do mundo.
É na identificação com essa humanidade dos mais vulneráveis do mundo que Jesus se identificará na ceia. Ao lavar os pés dos discípulos na ceia, é a eles que Jesus quer servir. É com eles e por eles que será crucificado. Também a ressurreição será para assumir o corpo dos mais pobres.








sábado, 27 de março de 2021

📌25 DE MARÇO - SOLENIDADE DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR


Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo". ( Lc 1,28) 

Há mais de dois mil anos, naquela pequena aldeia da Palestina teve início a história da tua salvação. Alegramo-nos com Maria pelas maravilhas de Deus que, é também em nossos corações.

“O próprio Deus é Aquele que toma a iniciativa e escolhe inserir-se, como fez com Maria, nas nossas casas, nas nossas lutas do dia a dia, repletas de ansiedades e, ao mesmo tempo, de desejos. 

E é precisamente dentro das nossas cidades, das nossas escolas e universidades, das praças e dos hospitais que se cumpre o anúncio mais bonito que podemos ouvir: «Alegra-te, o Senhor está contigo!». 

Com Maria da Anunciação, tenhamos um caminho de oração e partilha da vida. Que o dom de Deus e a fé generosa e forte de Maria nos ensine a contemplar e viver o projeto salvador da humanidade em todas as coisas. 


🔔SURPRESAS DE DEUS

O texto Lucas 1,26-38 nos fala da visita do anjo a Maria. É um texto muito conhecido. Quando as coisas são muito conhecidas a gente já não presta tanta atenção. Assim acontece com a visita de Deus em nossas vidas. Ela é tão presente e tão contínua que, muitas vezes, já não a percebemos e, por isso, perdemos uma grande oportunidade de viver na paz e na alegria.

O anúncio do anjo a Maria (Lc 1,26-38) vem depois do anúncio do anjo a Zacarias (Lc 1,5-25). Nos dois casos anuncia-se um nascimento. Vale a pena comparar os dois anúncios para perceber as semelhanças e diferenças. Descrevendo a visita do anjo a Maria e a Isabel, Lucas evoca as visitas de Deus a várias mulheres estéreis do AT: Sara, mãe de Isaque (Gn 18,9-25), Ana, mãe de Samuel (1SAm 1,9-18), a mãe de Sansão (Jz 13,2-5). A todos elas o anjo tinha anunciado o nascimento de um filho com missão importante na realização do plano de Deus. E agora, ele faz o mesmo anunciando a Isabel, esposa de Zacarias, e a Maria. Maria não é estéril. Ela é virgem. No AT, o anjo de Deus, muitas vezes, é o próprio Deus.

A Palavra de Deus chega a Maria não através de um texto bíblico, mas através de uma experiência profunda de Deus, manifestada na visita do anjo. Foi graças à ruminação da Palavra de Deus da Bíblia que ela foi capaz de perceber a Palavra viva de Deus na visita do anjo.

Lucas 1,26-27: A Palavra faz a sua entrada na vida

Lucas apresenta as pessoas e os lugares: uma virgem chamada Maria, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. Nazaré, uma cidadezinha na Galileia. Galileia era periferia. O centro eram a Judeia e Jurusalém. O anjo Gabriel é o enviado de Deus para esta moça virgem que morava na periferia. O nome Gabriel significa Deus é forte. O nome Maria significa Amada de Javé ou Javé é o meu Senhor. A história da visita de Deus a Maria começa com a expressão "No sexto mês". Trata-se do "sexto mês" de gravidez de Isabel, parenta de Maria, uma senhora já de idade, precisando de ajuda. A necessidade concreta de Isabel é o pano de fundo de todo este episódio. Encontra-se no começo (Lc 1,26) e o fim (Lc 1,36.39).

Lucas 1,28-29: A reação de Maria

Foi no Templo que o anjo apareceu a Zacarias. A Maria ele aparece na casa dela. A Palavra de Deus atinge Maria no ambiente da vida de cada dia. O anjo diz: "Alegra-te! Cheia de Graça! O Senhor está contigo!" Palavras semelhantes já tinham sido ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12), a Rute (Rt 2,4) e a muitos outros. Eles abrem o horizonte para a missão que estas pessoas do AT deviam realizar a serviço do povo de Deus. Intrigada com a saudação, Maria procura saber o significado. Ela é realista, usa a cabeça. Quer entender. Não aceita qualquer aparição ou inspiração.

Lucas 1,30-33: A explicação do anjo

"Não tenha medo, Maria!" Esta é sempre a primeira saudação de Deus ao ser humano: não ter medo! Em seguida, o anjo recorda as grandes promessas do passado que vão ser realizadas através do filho que vai nascer de  Maria. Este filho deve receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se realizará, finalmente, o Reino de Deus prometido a Davi, que todos estavam esperando ansiosamente. Esta é a explicação que o anjo dá a Maria para ela não ficar assustada.

Lucas 1,34: Nova pergunta de Maria

Maria tem consciência da missão importante que está recebendo, mas ela permanece realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição: "Como é que vai ser isto, se eu não conheço homem algum?" Ela analisa a oferta a partir dos critérios que nós, seres humanos, temos à nossa disposição. Pois, humanamente falando, não era possível que aquela oferta da Palavra de Deus se realizasse naquele momento.

Lucas 1,35-37: Nova explicação do anjo

O Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis 1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. Quando hoje a Palavra de Deus é acolhida pelos pobres sem estudo, algo novo acontece pela força do Espírito Santo! Algo tão novo e tão surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou como um filho nascer de Isabel, uma senhora já de idade, da qual todo o mundo dizia que ela não podia ter neném! E o anjo acrescenta: "E olhe, Maria! Isabel, tua prima, já está no sexto mês!"

Lucas 1,38: A entrega de Maria

A resposta do anjo clareia tudo para Maria. Ela se entrega ao que Deus está pedindo: "Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra". Maria usa para si o título de serva, empregada do Senhor. O título vem de Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um serviço aos outros povos. Mais tarde, Jesus, o filho que estava sendo gerado naquele momento, definirá sua missão como um serviço: "Não vim para ser servido, mas para servir" (Mt 20,28). Aprendeu da mãe!

Maria, modelo de comunidade

Lucas não fala muito sobre Maria, mas aquilo que fala tem grande profundidade. Quando fala de Maria, ele pensa nas comunidades. Apresenta Maria como modelo para a vida das comunidades. É na maneira de ela relacionar-se com a Palavra de Deus que Lucas vê a maneira mais correta para a comunidade relacionar-se com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Esta é a visão que está por trás dos textos dos capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas, que falam de Maria, a mãe de Jesus.

(Texto extraído do livro "O AVESSO É O LADO CERTO" – Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Lucas. Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes).