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segunda-feira, 29 de março de 2021

Betânia: casa de encontro, comunidade de amor

 



Segunda-feira da Semana Santa

* Por Adroaldo Palaoro
O perfume derramado por Maria é o símbolo da vida e do amor da comunidade que exalam bom odor. É um amor que não tem preço e estará sempre voltado para os pobres Foto (LUMO project)
+ Busque o seu "lugar sagrado" para iniciar a sua oração. Pacifique o seu coração, respirando em profundidade ou ouvindo os sons ao seu redor. Faça sua oração preparatória, a composição vendo o lugar e a graça a ser suplicada.
+ Antes de entrar em contemplação, leia serenamente os pontos abaixo:
- Estamos entrando na Semana Santa, a semana da páscoa de Jesus, da sua passagem deste mundo para o Pai (Jo 13,1). A liturgia de hoje coloca diante de nós o início do capítulo 12 do Evangelho de João, que faz a ligação entre o Livro dos Sinais (cc 1-11) e o Livro da Glorificação (cc.13-21).
Neste início de Semana Santa, o Espírito nos leva a viver Betânia, a ser Betânia, a assumir Betânia. Ali acontece uma ceia de ação de graças a Jesus pelo dom da vida.
Esta ceia é o símbolo do triunfo da vida sobre a morte. E essa força da vida se expressa no Evangelho de hoje mediante símbolos de vida: a mesa compartilhada, a amizade servidora de Marta, o perfume especial de Maria, a unção dos pés de Jesus, a fragrância que enche a casa.
Jesus quis celebrar o dom da vida em plenitude. Também é vida a amizade, a gratidão, a refeição, o perfume que invade tudo.
- Betânia é "casa dos pobres" (Beth-anawim): nela, em primeiro lugar, habitam nossas pobrezas pessoais e comunitárias, nossa pequenez abençoada e nossa fragilidade enaltecida. Mas também onde as pobrezas de nosso mundo, da humanidade têm lugar, e tocam nosso estilo de viver, de nos relacionar, de nos confrontar em nosso seguimento de Jesus.
Somos convidados a entrar na casa em Betânia: casa de encontro, comunidade de amor e coração de humanidade: com Jesus Mestre, com Marta, Lázaro e Maria, aquela que quebra o frasco e derrama o perfume nos pés de Jesus. A casa é o lugar da comunidade do ressuscitado, é a casa do Pai (14,2).
- Aqui, no centro do Evangelho de João, a comunidade, reconstruída no amor, exala o bom perfume que enche toda a casa. Em lugar do cheiro da morte, a casa enche-se do aroma de perfume. O perfume derramado por Maria é o símbolo da vida e do amor da comunidade que exalam bom odor. É um amor que não tem preço e estará sempre voltado para os pobres. As comunidades de Jesus estabelecem-se no espaço humanizador das casas, e não no espaço "oficial do sagrado" (templo).
- Betânia é o "templo" onde Jesus percebe a presença e o agir de Deus nos fatos mais simples da vida cotidiana. Betânia é para Jesus um prolongamento de Nazaré, o lugar do cotidiano, do pequeno, do simples: o lugar da revelação.
Marta e Maria expressam sua amizade e fazem com Jesus o que Ele logo fará com seus discípulos no momento de sua despedida: os serve à mesa e lava seus pés. Jesus se deixou fazer, para poder fazer isso com outros e quis tomar os gestos destas mulheres para fazer memória de sua vida. Impressiona-nos que neste relato elas não falam, e expressam todo seu amor "mais em obras que em palavras".
- Na unção em Betânia, Maria pode ser considerada como um ícone da nova sensibilidade que o Evangelho nos oferece. Ela está dotada de uma sensibilidade muito superior à dos discípulos e à dos demais comensais, tanto para perceber o que acontece como para expressar seus sentimentos com admirável fineza e liberdade.
Os dirigentes judeus andavam buscando uma ocasião para matar Jesus. Maria, certamente havia escutado os rumores que chegavam da vizinha Jerusalém e circulavam em voz baixa entre as pessoas do povo. Ela sintoniza com este momento dramático. Sua criatividade feminina encontrou no perfume um símbolo para expressar com grande delicadeza o que esse momento transbordava seu coração. Maria investe num gesto gratuito e desmedido, expressão de um amor exagerado.
O excesso de seu gesto sintoniza perfeitamente com o amor sem medida de Jesus, mas ultrapassa a limitada capacidade de compreensão dos presentes à mesa, sobretudo Judas Iscariotes.
Somos convidados a entrar na casa em Betânia: casa de encontro, comunidade de amor e coração de humanidade:
Com Jesus Mestre, para nos fazer mais humanos e próximos;
Com Marta, para professar a fé e a servir na diaconia;
Com Lázaro, para passar da morte à vida e caminhar na liberdade do Espírito;
Com Maria, para quebrar os frascos e a derramar o perfume da escuta e do amor.
+ Betânia é também lugar de interioridade, onde se internalizam os processos de humanização, onde surge a humanidade nova, atitudes mais humanas e humanizantes; lugar onde pulsa a Humanidade com toda sua força e onde volta a circular o sangue-vida. Criar Betânia em nosso interior e em nossas casas: lugar da mesa compartilhada, da unção e do cuidado; ambiente que exala perfume do amor, gratidão, amizade.
Podemos visualizar nossa vida como um frasco cheio de perfume que nos foi entregue gratuitamente por Deus para que lhe respondamos com nosso agradecimento e alegria e para que muitos outros possam participar disso.
+ Como preparação para a contemplação, leia uma ou duas vezes o texto do Evangelho indicado para este dia (Jo 12,1-11).
+ Com a imaginação, faça-se presente à casa em Betânia; procure olhar atentamente cada uma das pessoas (Jesus, Lázaro, Marta e Maria); sinta o clima de alegria e amizade; procure escutar o que elas dizem; observe as reações, gestos, acolhida das pessoas ali presentes. Sinta o perfume do frasco quebrado tomando conta da casa. Participe ativamente da cena, conversando, perguntando, ajudando a servir.
+ Faça um colóquio com Jesus, falando do clima "pesado" que existe em Jerusalém, pois estão à procura dele para matá-lo. Permaneça aí, deixando-se impactar pelo clima humano reinante nesta casa.
+ Finalize sua oração, dando graças por esta convivência amistosa. Leia o Salmo indicado.
+ Registre no caderno de vida os sentimentos predominantes durante a oração.
*Adroaldo Palaoro é padre jesuíta e atua no ministério dos Exercícios Espirituais. Reflexão do Evangelho de João 12,1-11 da Segunda-feira da Semana Santa





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