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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Querida Amazônia, nosso sonho sagrado.




Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos.


A Encíclica “Querida Amazônia”, publicada pelo Papa Francisco neste mês de fevereiro, nos lança um olhar de ternura e coragem. Une-nos aos desafios da missão além-fronteiras; pois em cada lugar do mundo está a graça de Deus, em que se encarna a espiritualidade da criação. Ao iniciar a leitura da exortação apostólica, enche-nos de admiração a sonoridade da Igreja em anseio de estreitar os laços de comunhão entre todos os povos e inspirar as pessoas de boa vontade contra o ódio, a ganância e as injustiças. Também, evocamos os diversos lugares em que as tristes notícias conhecidas através das redes sociais nos alertam a inconstância e escândalos contra a aurora de sonhos e utopias. Continuamos a sonhar e a escutar o grito da Amazônia que ecoa o mistério sagrado e nos inter-relaciona, homens e natureza pelo zelo à sabedoria do querer e bem viver. É necessária uma voz profética e, como cristãos, somos chamados a fazê-la ouvir (Cf. nº 27).

Na partilha dos quatro grandes sonhos de Francisco encontramos a realidade de luta da floresta e dos povos, por vezes alheia ao nosso olhar. O sonho nos inspira ao mistério de Deus pelo alcance da verdade (Cf.Gn.32). Por isso, os sonhos de Francisco são nossos, expressam o sentido de justiça e paz. Fazem-nos crer que há um jeito diferente de recontar a nossa história ao futuro.  Poeticamente, cantamos e rezamos a marca e a força de pessoas e da natureza, os sentimentos de solidariedade, da resistência, das lutas que fazem sonhar:

É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida”.
(Maria, Maria – Canção de  Milton Nascimento)[1]

Ousamos sonhar em nome de todas as comunidades amazônicas, especialmente quilombolas, ribeirinhos e indígenas: um sonho social pelos direitos dos povos originários e os mais pobres na capacidade da fraternidade; um sonho ecológico com toda a biodiversidade, cuidada pela consciência e respeito numa relação cósmica; um sonho cultural de escuta e cultivo da identidade, ‘sem invadir’ a relação dos habitantes; um sonho eclesial com rosto da Amazônia, de ser igreja em saída, missionária e profética “aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério” (Cf.nº1).  Ousamos sonhar a nossa responsabilidade de, juntos dialogar e atuar pelo bem comum; para a promoção à civilização do amor.
A ecologia integral é encontro do sonho amoroso de Deus, o universo acolhido em nossa humanidade. Para cada um de nós, implica a dinâmica contemplativa dos corpos, que se fazem circular em reciprocidade por todo dom recebido. Respiramos o ar que é comum. Numa mistura de dor e alegria, o sopro de vida se faz “dança” e esse movimento nos impele à missão. E isso nos permite encher-nos do verdadeiro espírito de diálogo, nutre-se da capacidade de entender o sentido daquilo que o outro diz e faz, embora não se possa assumi-lo como uma convicção própria – ((C.f nº108).

 O olhar de esperança nos interpela à luz da Palavra de Deus gerada na humanidade. “É preciso indignar-se, como se indignou Moisés (cf. Ex 11, 8), como Se indignava Jesus (cf. Mc 3, 5), como Se indigna Deus perante a injustiça (cf. Am 2, 4-8; 5, 7-12; Sal 106/105, 40). Cabe a cada um de nós a responsabilidade por essa indignação sã,  capaz de superar a marginalização cruel de massacres e mortes para construir novas relações de solidariedade e partilha.  O Evangelho propõe a caridade divina que brota do Coração de Cristo e gera uma busca da justiça, que é inseparavelmente; um canto de fraternidade e solidariedade, um estímulo à cultura do encontro. ( cf. nº22).

Com Maria, mãe peregrina da Amazônia, e de todos os povos, dialogamos e sonhamos uma sociedade humanitária, capaz de nos transformar e transbordar em irmandade.
E assim o sonho se faz...


Um comentário:

  1. lindo o texto, nos ajuda a abrir para a vida e enxergar as pessoas com os olhos de compaixão... Valeu

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