Sonho com comunidades cristãs capazes de
se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos
com traços amazônicos.
A
Encíclica “Querida Amazônia”, publicada pelo Papa Francisco neste mês de
fevereiro, nos lança um olhar de ternura e coragem. Une-nos aos desafios da
missão além-fronteiras; pois em cada lugar do mundo está a graça de Deus, em
que se encarna a espiritualidade da criação. Ao iniciar a leitura da exortação
apostólica, enche-nos de admiração a sonoridade da Igreja em anseio de
estreitar os laços de comunhão entre todos os povos e inspirar as pessoas de
boa vontade contra o ódio, a ganância e as injustiças. Também, evocamos os
diversos lugares em que as tristes notícias conhecidas através das redes
sociais nos alertam a inconstância e escândalos contra a aurora de sonhos e
utopias. Continuamos a sonhar e a escutar o grito da Amazônia que ecoa o
mistério sagrado e nos inter-relaciona, homens e natureza pelo zelo à sabedoria
do querer e bem viver. É necessária uma voz profética e, como cristãos, somos
chamados a fazê-la ouvir (Cf. nº 27).
Na
partilha dos quatro grandes sonhos de Francisco encontramos a realidade de luta
da floresta e dos povos, por vezes alheia ao nosso olhar. O sonho nos inspira
ao mistério de Deus pelo alcance da verdade (Cf.Gn.32). Por isso, os sonhos de
Francisco são nossos, expressam o sentido de justiça e paz. Fazem-nos crer que
há um jeito diferente de recontar a nossa história ao futuro. Poeticamente, cantamos e rezamos a marca e a
força de pessoas e da natureza, os
sentimentos de solidariedade, da resistência, das lutas que fazem sonhar:
“É preciso
ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
Ousamos
sonhar em nome de todas as comunidades amazônicas, especialmente quilombolas,
ribeirinhos e indígenas: um sonho social pelos direitos dos povos originários e
os mais pobres na capacidade da fraternidade; um sonho ecológico com toda a
biodiversidade, cuidada pela consciência e respeito numa relação cósmica; um
sonho cultural de escuta e cultivo da identidade, ‘sem invadir’ a relação dos
habitantes; um sonho eclesial com rosto da Amazônia, de ser igreja em saída,
missionária e profética “aos olhos do
mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério” (Cf.nº1). Ousamos sonhar a nossa responsabilidade de, juntos dialogar e atuar pelo bem comum; para a promoção à civilização do amor.
A
ecologia integral é encontro do sonho amoroso de Deus, o universo acolhido em
nossa humanidade. Para cada um de nós, implica a dinâmica contemplativa dos
corpos, que se fazem circular em reciprocidade por todo dom recebido.
Respiramos o ar que é comum. Numa mistura de dor e alegria, o sopro de vida se
faz “dança” e esse movimento nos impele à missão. E isso nos permite encher-nos do verdadeiro espírito de diálogo,
nutre-se da capacidade de entender o sentido daquilo que o outro diz e faz,
embora não se possa assumi-lo como uma convicção própria – ((C.f nº108).
O olhar de esperança nos interpela à luz da
Palavra de Deus gerada na humanidade. “É
preciso indignar-se, como se indignou Moisés (cf. Ex 11, 8), como Se indignava
Jesus (cf. Mc 3, 5), como Se indigna Deus perante a injustiça (cf. Am 2, 4-8;
5, 7-12; Sal 106/105, 40). Cabe a cada um de nós a responsabilidade por
essa indignação sã, capaz de superar a
marginalização cruel de massacres e mortes para construir novas relações de
solidariedade e partilha. O Evangelho propõe a caridade divina que
brota do Coração de Cristo e gera uma busca da justiça, que é inseparavelmente;
um canto de fraternidade e solidariedade, um estímulo à cultura do encontro. (
cf. nº22).
Com
Maria, mãe peregrina da Amazônia, e de todos os povos, dialogamos e sonhamos uma
sociedade humanitária, capaz de nos transformar e transbordar em irmandade.
E
assim o sonho se faz...
lindo o texto, nos ajuda a abrir para a vida e enxergar as pessoas com os olhos de compaixão... Valeu
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