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terça-feira, 25 de setembro de 2012

PJ lança roteiro sobre Eleições 2012


PJ lança roteiro sobre Eleições 2012



 Querida juventude,

“Felizes os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.”
(Mt 5,9)

O Brasil vive um momento de mudanças no cenário político nos municípios. É o tempo das eleições municipais, fato este que afetam diretamente as nossas vidas, seja pelo envolvimento próximo de muitos/as jovens, seja pela simples noção de que o nosso voto interferirá na sociedade em que vivemos pelos próximos quatro anos.
Nas eleições de 2012, mais de um milhão de jovens com 16 anos deverão votar pela primeira vez. Somados aos/as jovens de 17 a 20 anos, eles são mais de 11 milhões de eleitores. Temos também os/as mais de 17 mil jovens na faixa etária entre os 18 a 24 anos, que são candidatos aos cargos de vereador ou prefeito. Dentre eles/as muitos oriundos de uma caminhada e participação eclesial, em especial na PJ. A participação dos/as jovens na política é uma oportunidade de contribuir para a maturidade da democracia no país e boa parcela dos/as jovens brasileiros estão, sim, dispostos a participar das decisões políticas do país
Neste intuito, a Pastoral da Juventude (PJ) aproveita este momento importante para ajudar os grupos de base a refletirem melhor sobre a participação da juventude na política. Apesar dos sucessivos fatos apresentados pela mídia, especialmente nas redes sociais, desmotivando a participação da sociedade na política, é preciso ter em mente que o período das eleições é um momento que suscita na sociedade a possibilidade de mudança deste cenário.  Além disso, estamos em sintonia com a proposta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que este ano motiva nos cristãos e em toda a sociedade a reflexão do voto consciente, para que não sejam reeleitos candidatos de “ficha suja”. Outra proposta é promover o voto consciente que surge da necessidade de não permitir a venda de votos, uma prática que apesar de antiga e considerada ultrapassada, ainda persiste e ressurge de várias maneiras nos períodos eleitorais.
Queremos com este subsidio dialogar sobre a política para e com os/as jovens, do nosso jeito de ser Igreja, de forma simples e com uma linguagem acessível. Por isso elaboramos um roteiro para encontro dos grupos de base e rodas de conversa, divididos em dois blocos. Segue ainda, em anexo, o material da CNBB “Voto Consciente – Eleições 2012” e o documento “Pacto pela Juventude”, uma proposição das organizações da sociedade civil que compõe o Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), para que os governos federal, estaduais e municipais se comprometam com as políticas públicas de juventude em suas ações e programas, e aos candidatos/as a prefeitos/as e vereadores/as para que incorporem as demandas juvenis em suas plataformas eleitorais.
Desejamos que este material chegue aos nossos/as jovens, bem como a vontade de mudar a sociedade em que vivemos, que inicia com o bom emprego do nosso voto.

Bom trabalho a todos/as e boa eleição!

Coordenação Nacional e Comissão Nacional de Assessores/as da
Pastoral da Juventude

Baixe o subsídio no link:
Autor/Fonte: Teias da Comunicação

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ecumenismo - Ninguém é dono de Jesus (M c 9,30-37)


Ecumenismo - Ninguém é dono de Jesus (M c 9,30-37)- Mesters e Lopes


por CEBI Publicações
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ECUMENISMO
NINGUÉM É DONO DE JESUS
MARCOS 9,30-37

Texto extraido do livro ''CAMINHANDO COM JESUS'' - Círculos Bíblicos do Evangelho de Marcos - Coleção A Palavra na Vida 184/185. CEBI Publicações

ABRIR OS OLHOS PARA VER
O texto de Evangelho que vamos meditar hoje traz uma grande incoerência da parte dos discípulos de Jesus. Enquanto Jesus anunciava a sua paixão e morte, os discípulos discutiam entre si quem deles era o maior. Jesus queria servir, eles só pensavam em mandar! A ambição os levava a querer subir às custas de Jesus. Vamos conversar sobre isto.

SITUANDO
Esta reflexão traz o segundo anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Como no primeiro anúncio - Mc 8, 27-38 -, os discípulos ficam espantados e com medo. Não entendem a palavra sobre a cruz, porque não são capazes de entender nem de aceitar um Messias que se faz empregado e servidor dos irmãos. Eles continuam sonhando com um messias glorioso. O texto ajuda a perceber algo da pedagogia de Jesus. Mostra como ele formava os discípulos, como os ajudava a perceber e a superar o "fermento dos fariseus e de Herodes".
Tanto na época de Jesus como na époica de Marcos, havia o fermento da ideologia dominante. Também hoje, a ideologia da propagandas do comércio, do consumismo, das novelas influi profundamente no modo de pensar e de agir do povo. Na época de Marcos, nem sempre as comunidades eram capazes de manter uma atitude crítica frente à invasão da ideologia do império. A atitude de Jesus com relação aos apóstolos, descrita no evangelho, as ajudava e continua ajudando a nós hoje.

COMENTANDO
Marcos 9,30-32: O anúncio da cruz
Jesus caminha através da Galiléia, mas não quer que o povo o saiba, pois está ocupado com a formação dos discípulos e discípulas e conversa com eles sobre a cruz. Ele diz que, conforme a profecia de Isaías - Is 53,1-10 -, o Filho do Homem deve ser entregue e morto. Isto mostra como Jesus se orientava pela Bíblia, na formação aos discípulos. Ele tirava o seu ensinamento das profecias. Os discípulos o escutam, mas não entendem a palavra sobre a cruz. Mesmo assim, não pedem esclarecimento. Eles tem medo de deixar transparecer sua ignorância.
Marcos 9,33-34: A mentalidade de competição
Chegando em casa, Jesus pergunta: Sobre que vocês estavam discutindo no caminho? Eles não respondem. É o silêncio de quem se sente culpado, pois pelo caminho discutiam sobre quem deles era o maior. Jesus é bom formador. Não intervém logo, mas sabe aguardar o momento oportuno para combater a influência da ideologia dos seus formandos. A mentalidade de competição e de prestígio que caracteriza a sociedade do Império Romano já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas começando! Aqui aparece o contraste! Enquanto Jesus se preocupa em ser o Messias Servidor, eles só pensam em ser o maior. Jesus procura descer. Eles querem subir!
Marcos 9, 35-37: Servir, em vez de mandar
A resposta de Jesus é um resumo do testemunho de vida que ele mesmo vinha dando desde o começo: Quem quer ser o primeiro seja o último de todos, o servidor de todos! Pois o último não ganha nada. É um servo inútil (cf. Lc 17,10). O poder deve ser usado não para subir e dominar, mas para descer e servir. Este é o ponto em que Jesus mais insistiu e em que mais deu o seu próprio testemunho (cf. Mc 10,45; Mt 20,28; Jo 13,1-16).
Em seguida, Jesus coloca uma criança no meio deles. Uma pessoa que só pensa em subir e dominar não daria tão grande atenção aos pequenos e às crianças. Mas Jesus inverte tudo! Ele diz: "Quem receber uma destas crianças em meu nome é a mim que recebe. Quem receber a mim recebe aquele que me enviou! Ele se identifica com as crianças. Quem acolhe os pequenos em nome de Jesus acolhe o próprio Deus!

ALARGANDO
Um retrato de Jesus como formador
"Seguir" era um termo que fazia parte dos sitema da época. Era usado para indicar o relacionamento entre o discípulo e o mestre. O relacionamento mestre-discípulo é diferente do relacionamento professor-aluno. Os alunos assistem às aulas do professor sobre uma determinada matéria. Os discípulos "seguem" o mestre e convivem com ele. Foi nesta "convivência" de três anos com Jesus que os discípulos e as discípulas receberam a sua formação.
Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus que ela já é santa e renovada. No meio dos discípulos, cada vez de novo, a mentalidade antiga levantava a cabeça, pois o "fermanto de Herodes e dos fariseus" - Mc 8,15-, isto é, a ideologia dominante, tinha raízes profundas na vida daquele povo. A conversão que Jesus pede quer atingir a raiz e erradicar o "fermanto''. Já vimos como Jesus combatia a mentalidade antigo de competição e de prestígio - Mc 9,33-37 e a mentalidade fechada de quem se considera dono de tudo - Mc 9,38-40. Eis alguns outros casos desta ajuda fraterna de Jesus aos discípulos.
.: Mentalidade de grupo que se considera superior aos outros
Certa vez, os samaritanos não queriam dar hospedagem a Jesus. Reação dos discípulos: "Que um fogo do céu acabe com esse povo" (Lc 9,54). Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los. Pensavam ter Deus do seu lado para defendê-los. Era a mentalidade antiga de "Povo eleito, Povo privilegiado!" Jesus os repreende: ''Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc 9,55).
.: Mentalidade de quem marginaliza o pequeno
Os discípulos afastavam as crianças. Era a mentalidade da cultura da época em que criança não contava e devia ser disciplinada pelos adultos. Jesus os repreende: ''Deixem vir a mim as crianças!" (Mc 10,14). Ele coloca a criança com professora de adulto: "Quem não receber o Reino como uma criança não pode entrar nele" (Lc 18,17).
.: Mentalidade de quem pensa conforme a opinião de todo mundo
Certo dia, vendo um cego, os discípulos perguntaram: ''Quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo 9,2). Como hoje, o poder da opinião pública era muito forte. Fazia todo o mundo pensar de acordo com a cultura dominante. Enquanto se pensa assim não é possível perceber todo o alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma visão mais crítica: ''Nem ele, nem os pais dele'' (Jo 9,3). A resposta de Jesus supõe uma leitura diferente da realidade.
Jesus, o Mestre, é o eixo, o centro e o modelo da formação. Pelas suas atitudes, ele é uma amostra do Reino, encarno o amor de Deus e o revela (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). Muitos pequenos gestos refletem este testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e ds discípulas, preparando-os para a vida e a missão. Era a sua maneira de dar forma humana a experiência que ele mesmo tinha de Deus como Pai:
.: Envolve-os na missão - Mc 6,7; Lc 9,1-2; 10,1.
.: Na volta, faz revisão com eles - Lc 10,17-20.
.: Corrige-os quando erram e querem ser os primeiros - Mc 9,33-35; 10,14-15.
.: Aguarda o momento oportuno para corrigir - Lc 9,46-48; Mc 10,14-15.
.: Ajuda-os a discernir - Mc 9,28-29.
.: Interpela-os quando são  lentos - Mc 4,13; 8,14-21.
.: Prepara-os para o conflito - Jo 16,33; Mt 10,17-25.
.: Manda observar a realidade - Mc 8,27-29; Jo 4,35; Mt 16,1-3.
.: Reflete com eles sobre as questões do momento - Lc 13,1-5.
.: Confronta-os com as necessidades do povo - Jo 6,5.
.: Ensina que as necessidades do povo estão acima das prescrições rituais - Mt 12,7.12.
.: Tem momentos a sós para poder instrui-los - Mc 4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3.
.: Sabe escutar, mesmo quando o diálogo é difícil - Jo 4,7-42.
.: Ajuda-os a aceitar a si mesmos - Lc 22,32.
.: É exigente e pede para deixar tudo por amor a ele - Mc 10,17-31.
.: É severo com a hipocrisia - Lc 11,37-53.
.: Faz mais perguntas que dá respostas - Mc 8,17-21.
.: É firme e não se deixa desviar do caminho - Mc 8,33; Lc 9,54.
.: Prepara-os para o conflito e a perseguição - Mt 10,16-25.
Este é um retrato de Jesus como formador. A formação do "seguimento de Jesus" não era, em primeiro lugar, a transmissão de verdades a serem decoradas, mas sim a comunicação da nova experiência de Deus e da vida que irradiava de Jesus para os discípulos e discípulas. A própria comunidade que se formava ao redor de Jesus era  a expressão desta nova experiência. A formação levava as pessoas a terem outros olhos, outras atitudes. Fazia nascer nelas uma nova consciência a respeito da missão e a respeito de si mesmas. Fazia com que fossem colocando os pés do lado dos excluídos. Produzia, aos poucos, a "conversão" como consequência da aceitação da Boa Nova (Mc 1,15).

fonte: www.cebi.org.br

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Mês da Bíblia

Setembro é o mês da Bíblia para várias igrejas cristãs. O Evangelho de Marcos (Mc) foi escolhido para ser o texto bíblico do mês da Bíblia de 2012. Eis, abaixo, algumas pistas para ajudar na interpretação de Mc.



Evangelho de Marcos: seguir Jesus a partir dos injustiçados.
Gilvander Luís Moreira[1]

Mc não foi escrito enquanto Jesus de Nazaré convivia com o povo, consolando os aflitos e afligindo os consolados. Mc foi escrito por volta dos anos 70 do 1º século da era cristã. Logo, trata-se de teologia da história e não de uma crônica jornalística da práxis e do ensinamento do Galileu. Provavelmente, Mc foi escrito fora da Palestina, na periferia da capital do Império Romano, onde os apóstolos Paulo e Pedro tinham, segundo a tradição, sido martirizados. Mc objetiva guiar as primeiras comunidades cristãs que enfrentavam - e, hoje, as pessoas cristãs que enfrentam -, muitos problemas e desafios.
Mc inicia dizendo: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.” (Mc 1,1). Assim, Marcos é o criador do gênero Evangelho. Mc é único dos quatro evangelhos da Bíblia que usa a palavra Evangelho[2] (eu + angelos, em grego), que quer dizer boa notícia aos empobrecidos e, conseqüentemente, péssima notícia para os opressores dos pobres (cf. Lc 4,18-19).
Organizado seguindo uma seqüência cronológica, Mc, com 16 capítulos, é o menor Evangelho da Bíblia. Mc é uma das fontes para a elaboração dos outros três evangelhos: Mt, Lc e Jo. Encontramos também em Mc algumas ausências. Não há narrativa da genealogia, nem das infâncias de João Batista e de Jesus, nem do Pai Nosso e nem das Bem aventuranças. A narrativa das tentações está resumida (Mc 1,13).
O autor de Mc faz questão de dizer: “Depois que João (Batista) foi preso, veio Jesus para a Galileia proclamando o Evangelho de Deus...” (Mc 1,14). Quer dizer, foi um acontecimento político - repressão ao profeta João Batista, líder de um movimento popular-religioso -, feito pelo governador Herodes, que fez Jesus reconhecer que a sua hora tinha chegado, que era preciso iniciar sua missão pública. Mc mostra também Jesus travando conflito com autoridades religiosas (Mc 2,1-3,6), mas em Mc o grande inimigo de Jesus e do seu Projeto é o poder político. Conseqüência: somos discípulos/as de um prisioneiro político. Impossível ser pessoa cristã sem se comprometer com a luta por justiça, com uma Política que constrói uma sociedade justa, solidária, ecumênica, com direitos humanos e sustentabilidade ambiental.
Em Mc, os empobrecidos, excluídos, doentes, endemoninhados, cegos, surdos-mudos... todos os injustiçados se sentem atraídos por Jesus. Vão ao encontro dele, revelam grandeza de espírito, audácia e passam a seguir o mestre Galileu tornando-se seus discípulos/as. Por outro lado, em Mc, os apóstolos e discípulos revelam ter uma grande dificuldade de entender o projeto de Jesus. São “duros e ignorantes”. Isso aparece nas repreensões a Pedro (Mc 8,32s), na discussão dos discípulos sobre a hierarquia de cada um deles na hierarquia apostólica (Mc 9,32ss), no pedido dos filhos de Zebedeu solicitando para si os primeiros lugares (Mc 10,35-45). Enfim, em Mc os/as autênticos/as discípulas/os são os oprimidos e injustiçados.
Havia na época de Marcos quem entendesse milagre como algo extraordinário e para além da natureza, feitos a serem realizados apenas por quem tivesse um poder para além do humano. Para combater essa ideia, o autor de Mc vai mostrar Jesus fazendo milagres como exercício de solidariedade, de cuidado, de ação misericordiosa. Em Mc os milagres têm também a força de desestabilizar o status quo religioso, porque Jesus, sem ser sacerdote, sendo leigo e sem cobrar nada, curava as pessoas, dentro de um processo de solidariedade gratuita. Isso minava a privatização da saúde que, sob pagamento, estava nas mãos dos sacerdotes, do sinédrio.
Marcos vai, ao longo do Evangelho, demonstrar que Jesus é o Cristo, o messias filho de Deus, mas não o messias do poder, nem do prestígio, nem da pureza, nem da Lei, nem da religião burguesa, mas o messias servo sofredor. Por isso Marcos faz Theologia crucis. Jesus é aquele que por amor extremado à humanidade se doa até ao martírio.
Marcos concebeu seu evangelho a partir da paixão. Isto se comprova pelas repetidas condenações à morte sentenciadas pela hierarquia judaica. A primeira decisão se executar Jesus foi tomada no final do primeiro confronto com adversários na Galileia (Mc 3,6); as seguintes se escalonam até o relato da paixão (Mc 11,18; 12,12; 14,1s.55). O caminho de Jesus em Mc é acompanhado pela sombra da morte.
Em Mc há um arco de tensão. Jesus é filho de Deus do início ao fim do evangelho (Mc 1,1.11; 15,39), mas como servo que ama gratuitamente a todos a partir dos injustiçados. No meio do evangelho aparecem ameaças de morte – e de ressurreição - para Jesus (Mc 8,31; 9,31, 10,33s). Assim, Jesus percebe que seu caminho passará pelo martírio. Livremente o Galileu enfrenta as injustiças e se doa integralmente.
Mc é o evangelho do Movimento e do Caminho. Jesus e seu movimento popular-religioso estão sempre se movimentando, sempre em missão, sempre a Caminho. É o Profeta que prepara o caminho (Mc 1,2) e clama para o povo preparar o caminho (Mc 1,3). Jesus está quase sempre caminhando (Mc 1,16). Vai com os discípulos “a caminho do mar” (Mc 3,7) e também descreve o que acontece pelo caminho (Mc 8,3.27; 9,33-34; 10,32.52). Da mesma forma, quem aceita Jesus deve segui-lo e empunhar seu projeto, que é de libertação integral. Em Mc o verbo “seguir” aparece dez vezes.[3] As primeiras pessoas cristãs pertenciam ao Caminho (At 9,2; 18,25-26; 19,9-23).
Em Mc, o Projeto de Jesus e seu Movimento não são uma “boa notícia para agradar gregos e troianos”, opressores e oprimidos. Trata-se de boa notícia para todos, mas a partir dos empobrecidos. Mc faz opção pelos pobres. Por isso, em Mc são freqüentes os contrastes e conflitos. Ou se está do lado de Jesus ou contra Ele. O verbo “discutir”[4] aparece várias vezes em Mc.
Em Mc estão em seguida dois acontecimentos dialéticos: o banquete da morte (festa de Herodes, cf.  Mc 6,14-29) e o banquete da vida (partilha dos pães, cf. Mc 6,30-44). O banquete da morte acontece à custa do banquete da vida.
O Herodes de Mc 6,14-29 é o Herodes Antipas, filho menor de Herodes o Grande e de Maltace, governou sobre a Galileia de 4 a.C. a 39 da Era Cristã. Ele aparece na morte de Jesus (Lc 23,7). Mandou matar João Batista (Mc 6,14-29). Segundo Flávio Josefo, as regiões de Pereia e Galileia davam à corte de Herodes cerca de 200 talentos[5] por ano.[6] Mc diz que a causa da prisão de João teria sido uma denúncia de “imoralidade”, mas Flávio Josefo dá outra versão: Herodes teria mandado matar João Batista porque a reputação dele era tão grande que os seus conselhos eram seguidos de maneira geral, e isso poderia levar o povo à rebelião e à desobediência civil, à insurreição, e por isso, considerou melhor tirá-lo do caminho a tempo do que correr perigo, no caso de virada das coisas. E então, quando já seria tarde demais, quando teria de se arrepender.
Mc denuncia esse banquete da morte e propõe o banquete da vida, que passa pela partilha do pão, pela organização, fraternidade e solidariedade.
Um oficial militar do império romano, em Mc 15,39, exclama ao contemplar Jesus crucificado: “Verdadeiramente este homem é o Filho de Deus.” Ou seja, para ser discípulo/a autêntico/a é preciso contemplar os crucificados da história, se comover com a dor deles e abraçar suas causas de libertação. Isso implica por a vida em risco.
Em Mc 16 se anuncia aos que procuram no cemitério: “Jesus está vivo, ressuscitado. Voltem para a Galileia, pois lá vocês farão a experiência de que Jesus está vivo.” Hoje, há milhões de pessoas em muitas Galileias testemunhando que Jesus e seu Evangelho estão vivos em tantos que se doam e combatem lutando por justiça e paz. Assim, o Evangelho de Marcos nos convida para seguir Jesus e seu Projeto a partir dos injustiçados.
Enfim, bom mês da Bíblia para você e sua Comunidade na companhia do Evangelho de Marcos.

Belo Horizonte, MG, Brasil, 03 de setembro de 2012.



[1] Frei e padre carmelita, mestre em Exegese Bíblica; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina, em Minas Gerais, Brasil; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.brwww.gilvander.org.brwww.twitter.com/gilvanderluis - facebook: Gilvander Moreira
[2] A palavra “Evangelho” aparece sete vezes em Mc (Mc 1,1.14.15; 8,35; 10,29; 13,10; 14,9).

[3] Cf. Mc 1,17.18.20; 2,14.15; 8,34; 10,21.28.32.52...
[4] Cf. Mc 1,27; 8,11; 9,10; 14,16; 12,28.
[5] 01 talento = 26 Kg e 436 gramas. Veja Mt 18,24. Segundo cálculos de alguns estudiosos, um trabalhador como aquele da parábola de Mt 20,1-15, que recebeu um denário por um dia de trabalho, levaria mais de quinze anos para conseguir juntar um único talento!
[6] JOSEFO, Flávio. Ant. XVIII, 11, 4, n. 318; cf. Guerra I, 33, 8, nn. 668-669.