Pesquisar este blog

segunda-feira, 25 de junho de 2012

A necessidade de voltar para a Igreja dos pobres.


A necessidade de voltar para a Igreja dos pobres. Artigo de Jon Sobrino

Voltemos à Igreja de Dom Romeroe de Ellacuría. A deterioração da Igreja depois de Puebla é inocultável.

A análise é do teólogo jesuíta salvadorenho, de origem espanhola, Jon Sobrino, professor da Universidade Centro-Americana, de San Salvador. O artigo foi publicado no sítioReflexión y Liberación, 22-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Ver a Igreja "em pobreza e sem poder" nunca teve muito êxito, e isso não se tornou algo central nem sequer no Vaticano II, tão importante e decisivo em muitas outras coisas. Isso ocorreu, sim, em Medellín, e em Puebla ainda pôde se sair bem perante graves manobras contrárias.

Mas, há três décadas, a deterioração é inocultável. Comblin diz: "Depois de Puebla, começou a Igreja do silêncio. A Igreja começou a não ter nada a dizer". E, embora Aparecida tenha significado um pequeno freio, na Igreja ainda não aconteceu aquele "reverter a história" que Ellacuría exigia para curar uma sociedade gravemente doente. A conclusão é que é preciso voltar para uma Igreja dos pobres e trabalhar por isso. Em El Salvador, depois de Dom Romero, a deterioração é clara; daí a necessidade de recomposição eclesial.

O Vaticano II

João XXIII desejava que o Concílio reconhecesse que a Igreja é "uma Igreja dos pobres". O cardeal Lercaro proferiu um discurso emotivo e lúcido sobre isso no fim da primeira sessão em 1962, e Dom Himmer pediu com toda a clareza: "É preciso reservar aos pobres o primeiro lugar na Igreja".

Mas, ainda em outubro de 1963, o bispo Gerlier se queixava da pouca importância que estava sendo dada aos pobres no esquema sobre a Igreja. Os bispos latino-americanos mais lúcidos também captaram logo que o tema estava muito distante da imensa maioria do Concílio, a questão era muito distante para eles, embora sempre se mantivesse um grupo que queria seguir a inspiração de João XXIII, entre eles um bom número de latino-americanos. Eles se reuniram confidencialmente e de forma regular na Domus Mariae, para tratar do tema "a pobreza da Igreja".

Em 16 de novembro de 1965, poucos dias antes do encerramento do Concílio, cerca de 40 padres conciliares celebraram uma eucaristia nas catacumbas de Santa Domitila. Pediram para "serem fiéis ao espírito de Jesus" e, ao terminar a celebração, assinaram o que chamaram de "o pacto das catacumbas".

O "pacto" é um desafio para os "irmãos no episcopado" para levar uma "vida de pobreza" e ser uma Igreja "servidora e pobre", como João XXIII a queria. Os signatários – incluindo muitos latino-americanos e brasileiros, aos quais depois se uniram outros – se comprometiam a viver em pobreza, a rejeitar todos os símbolos ou privilégios de poder e a colocar os pobres no centro do seu ministério pastoral. O texto teria uma forte influência na teologia da libertação que despontaria poucos anos depois.

Um dos propulsores do pacto foi Dom Helder Câmara. Em 2009, celebramos o centenário do seu nascimento, em 7 de fevereiro de 1909, em FortalezaCeará, no Nordeste do Brasil.

Lendo hoje o pacto, chama a atenção que, no fundamental, ele trata de um único assunto: a pobreza. Mas, por ser o eixo em torno do qual tudo girava – e não, por exemplo, a administração dos sacramentos –, o pacto das catacumbas produziu frutos importantes em Medellín e, pouco a pouco, em outras Igrejas. Historicamente, levou à luta pela justiça e pela libertação. Eclesialmente, à opção pelos pobres. Teologicamente, ao Deus dos pobres. Tudo isso chegou a El Salvador, e Dom Romero o pôs para produzir e o abençoou, junto com a novidades salvadorenha dos mártires.

O Monsenhor conheceu em Puebla àqueles bispos do pacto e de Medellín, e voltou muito contente. "Eu me lembro de uma das primeiras noites da reunião de Puebla, quando conheci a Dom Helder Câmara e a Dom Proaño e ao cardealArns do Brasil. Quando eles souberam que eu era o arcebispo de San Salvador, me diziam: 'Você tem muito a nos contar. Saiba que o conhecemos e que esse povo é admirável, e que continuem sendo fiéis ao Evangelho como têm sido até agora'". É evidente a admiração que sentiam pelo Monsenhor, e a que o Monsenhor sentia por eles.

Atualmente, também há "pactos". Pedro Casaldáliga é o seu porta-voz mais eloquente. Em sua circular de 2009, ele escreve: "pacto".

Dom Helder Câmara era um dos principais animadores do grupo profético. Hoje, nós, na turbulenta conjuntura atual, professamos a vigência de muitos sonhos, sociais, políticos, eclesiais, aos quais não podemos renunciar de modo algum.

Continuamos rejeitando o capitalismo neoliberal, o neoimperialismo do dinheiro e das armas, uma economia de mercado e do consumismo que sepulta na pobreza e na fome a uma grande maioria da humanidade. E continuaremos rejeitando toda discriminação por motivos de gênero, de cultura, de raça. Exigimos a transformação substancial dos órgãos mundiais (ONUFMIBanco MundialOMC...). Comprometemo-nos a viver uma "ecologia profunda e integral", propiciando uma política agrário-agrícola alternativa à política predatória do latifúndio, da monocultura, do agrotóxico. Participaremos das transformações sociais, políticas e econômicas, para uma democracia de "alta intensidade".

Como Igreja, queremos viver, à luz do Evangelho, a paixão obsessiva de Jesus, o Reino. Queremos ser Igreja da opção pelos pobres, comunidade ecumênica e macroecumênica também. O Deus em que cremos, o Abbá de Jesus, não pode ser de modo algum causa de fundamentalismos, de exclusões, de inclusões absorventes, de orgulho proselitista. Chega de fazer do nosso Deus o único Deus verdadeiro. "Meu Deus, deixa-me ver a Deus?".

Com todo o respeito pela opinião do Papa Bento XVI, o diálogo inter-religioso não só é possível, mas também é necessário. Faremos da corresponsabilidade eclesial a expressão legítima de uma fé adulta.

Exigiremos, corrigindo séculos de discriminação, a plena igualdade da mulher na vida e nos ministérios da Igreja. Estimularemos a liberdade e o serviço reconhecido de nossos teólogos e teólogas. A Igreja será uma rede de comunidades orantes, servidoras, proféticas, testemunhas da Boa Nova: uma Boa Nova de vida, de liberdade, de comunhão feliz. Uma Boa Nova de misericórdia, de acolhida, de perdão, de ternura, samaritana à beira de todos os caminhos da humanidade.

Continuaremos fazendo com que se viva na prática eclesial a advertência de Jesus: "Não seja assim entre vós" (Mt 21, 26). Que a autoridade seja serviço. O Vaticano deixará de ser Estado, e o papa não será mais chefe de Estado. A Cúria deverá ser profundamente reformada, e as Igrejas locais cultivarão a inculturação do Evangelho e a ministerialidade compartilhada.

A Igreja se comprometerá, sem medo, sem evasões, com as grandes causas da justiça e da paz, dos direitos humanos e da igualdade reconhecida de todos os povos. Será profecia de anúncio, de denúncia, de consolação.

Jon Sobrino
UCA de San Salvador

sexta-feira, 22 de junho de 2012



DECLARAÇÃO FINAL
CÚPULA DOS POVOS NA RIO+20 POR JUSTIÇA SOCIAL E AMBIENTAL
EM DEFESA DOS BENS COMUNS, CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DA VIDA





Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos e organizações da sociedade civil de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, vivenciaram nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanas e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade.
A Cúpula dos Povos é o momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros, juventudes, agricultores/as familiares e camponeses, trabalhadore/as, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito a cidade, e religiões de todo o mundo. As assembléias, mobilizações e a grande Marcha dos Povos foram os momentos de expressão máxima destas convergências.
As instituições financeiras multilaterais, as coalizões a serviço do sistema financeiro, como o G8/G20, a captura corporativa da ONU e a maioria dos governos demonstraram irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveram os interesses das corporações na conferência oficial. Em constraste a isso, a vitalidade e a força das mobilizações e dos debates na Cúpula dos Povos fortaleceram a nossa convicção de que só o povo organizado e mobilizado pode libertar o mundo do controle das corporações e do capital financeiro.
Há vinte anos o Fórum Global, também realizado no Aterro do Flamengo, denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam com a privatização e o neoliberalismo. Hoje afirmamos que, além de confirmar nossa análise, ocorreram retrocessos significativos em relação aos direitos humanos já reconhecidos. A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos, a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema economico-financeiro.
As múltiplas vozes e forças que convergem em torno da Cúpula dos Povos denunciam a verdadeira causa estrutural da crise global: o sistema capitalista associado ao patriarcado, ao racismo e à homofobia.

As corporações transnacionais continuam cometendo seus crimes com a sistemática violação dos direitos dos povos e da natureza com total impunidade. Da mesma forma, avançam seus interesses através da militarização, da criminalização dos modos de vida dos povos e dos movimentos sociais promovendo a desterritorialização no campo e na cidade.
Avança sobre os territórios e os ombros dos trabalhadores/as do sul e do norte. Existe uma dívida ambiental histórica que afeta majoritariamente os povos do sul do mundo que deve ser assumida pelos países altamente industrializados que causaram a atual crise do planeta.
O capitalismo também leva à perda do controle social, democrático e comunitario sobre os recursos naturais e serviços estratégicos, que continuam sendo privatizados, convertendo direitos em mercadorias e limitando o acesso dos povos aos bens e serviços necessários à sobrevivencia.
A atual fase financeira do capitalismo se expressa através da chamada economia verde e de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento público-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas, entre outros.
As alternativas estão em nossos povos, nossa história, nossos costumes, conhecimentos, práticas e sistemas produtivos, que devemos manter, revalorizar e ganhar escala como projeto contra-hegemônico e transformador.
A defesa dos espaços públicos nas cidades, com gestão democrática e participação popular, a economía cooperativa e solidária, a soberania alimentar, um novo paradigma de produção, distribuição e consumo, a mudança da matriz energética,  são exemplos de alternativas reais frente ao atual sistema agro-urbano-industrial.
A defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma série de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e respeito às cosmovisões e crenças dos diferentes povos, como, por exemplo, a defesa do “Bem Viver” como forma de existir em harmonia com a natureza, o que pressupõe uma transição justa a ser construída com os trabalhadores/as e povos. A construção da transição justa supõe a liberdade de organização e o direito a contratação coletiva e políticas públicas que garantam formas de empregos decentes.
Reafirmamos a urgência da distribuição de riqueza e da renda, do combate ao racismo e ao etnocídio, da garantia do direito a terra e território, do direito à cidade, ao meio ambiente e à água, à educação, a cultura, a liberdade de expressão e democratização dos meios de comunicação, e à saúde sexual e reprodutiva das mulheres.
fortalecimento de diversas economias locais e dos direitos territoriais garantem a construção comunitária de economias mais vibrantes. Estas economias locais proporcionam meios de vida sustentáveis locais, a solidariedade comunitária, componentes vitais da resiliência dos ecossistemas. A maior riqueza é a diversidade da natureza e sua diversidade cultural associada e as que estão intimamente relacionadas.
Os povos querem determinar para que e para quem se destinam os bens comuns e energéticos, além de assumir o controle popular e democrático de sua produção. Um novo modelo enérgico está baseado em energias renováveis descentralizadas e que garanta energia para a população e não para corporações.
A transformação social exige convergências de ações, articulações e agendas comuns a partir das resistências e proposições necessárias que estamos disputando em todos os cantos do planeta. A Cúpula dos Povos na Rio+20 nos encoraja para seguir em frente nas nossas lutas.
Rio de Janeiro, 15 a 22 de junho de 2012.
Comitê Facilitador da Sociedade Civil na Rio+20 - Cúpula dos Povos

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Cúpula dos Povos


O que é

Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental é um evento organizado pela sociedade civil global que acontecerá entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro – paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20.
Por quê?Rio+20 oficial marca os vinte anos da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92 ou Eco 92). Nestas duas décadas, a falta de ações para superar a injustiça social ambiental tem frustrado expectativas e desacreditado a ONU. A pauta prevista para a Rio+20 oficial – a chamada “economia verde” e a institucionalidade global – é considerada por nós como insatisfatória para lidar com a crise do planeta, causada pelos modelos de produção e consumo capitalistas.
Para enfrentar os desafios dessa crise sistêmica, a Cúpula dos Povos não será apenas um grande evento. Ela faz parte de um processo de acúmulos históricos e convergências das lutas locais, regionais e globais, que tem como marco político a luta anticapitalista, classista, antirracista, antipatriarcal e anti-homofóbica.
Queremos, assim, transformar o momento da Rio+20 numa oportunidade para tratar dos graves problemas enfrentados pela humanidade e demonstrar a força política dos povos organizados. “Venha reinventar o mundo” é o nosso chamado e o nosso convite à participação para as organizações e movimentos sociais do Brasil e do mundo. A convocatória global para a Cúpula será realizada durante o Fórum Social Temático (www.fstematico2012.org.br), em 28 de janeiro, em Porto Alegre (RS). O Fórum deste ano é, aliás, preparatório para a Cúpula.
Como?O Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20 (CFSC) está preparando o desenho da Cúpula dos Povos e do território que ocuparemos no Aterro do Flamengo. O espaço será organizado em grupos de discussão autogestionados, na Assembleia Permanente dos Povos e num espaço para organizações e movimentos sociais exporem, praticarem e dialogarem com a sociedade sobre suas experiências e projetos, chamado de Territórios do Futuro. As ações da Cúpula estarão todas interligadas. Clique aqui para ver a programação.
A ideia é que a Assembleia Permanente dos Povos – o principal fórum político da Cúpula, se organize em torno de três eixos e debata as causas estruturais da atual crise civilizatória, sem fragmentá-la em crises específicas – energética, financeira, ambiental, alimentar. Com isso, esperamos afirmar paradigmas novos e alternativos construídos pelos povos e apontar a agenda política para o próximo período.
Os três eixos são: denúncia das causas estruturais das crises, das falsas soluções e das novas formas de reprodução do capital, soluções e novos paradigmas dos povos e estimular organizações e movimentos sociais a articular processos de luta anticapitalista pós-Rio+20. Para entender melhor como eles organizam as atividades da Cúpula, cliqueaqui.
Quando?Por isso, o território da Cúpula dos Povos será organizado de forma livre da presença corporativa e com base na economia solidária, agroecologia, em culturas digitais, ações de comunidades indígenas e quilombolas. Esse encontro da cidadania, que também contará com atrações culturais, ficará aberto até o fim da Cúpula, no dia 23.
Os dias 5 e 20 de junho serão de mobilização global

Cúpula dos Povos e Rio +20


terça-feira, 12 de junho de 2012

Via Campesina na XVI Romaria das águas e da terra de Minas Gerais: Teresinha e Adilson. 10/06/2012



Carta dos romeiros e romeiras da 16ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais
e 2ª Romaria Diocesana da Diocese de Governador Valadares, MG.
    Tudo que existe proclama: teu reino é reino de todos os séculos, teu domínio se estende a todas as gerações (Sl 145,13)
Do Senhor é a terra com o que ela contém, o universo e os que nele habitam (Sl 24,1-2)

 
Nós, romeiros e romeiras, dos diversos Vales e Montanhas de Minas Gerais, campos e cidades, reunimo-nos em Governador Valadares , às margens do Rio Doce e aos pés do pico da Ibituruna, para celebrar a 16ª Romaria das Águas e da Terra, sob o lema: “Das montanhas e vales férteis, brote o compromisso com a vida e a saúde de seus povos!” e a 2ª Romaria Diocesana.
     Nesta caminhada romeira, refletimos sobre a realidade do nosso planeta, escutando o grito que sai da terra, das águas e dos seus filhos.
     Testemunhamos que a conquista e a ocupação das terras em nosso País e da luta pela sobrevivência das pessoas que nelas convivem e trabalham, são frutos de uma batalha desigual. De um lado os devoradores da natureza, provocando uma verdadeira idolatria da terra e das águas, transformando tudo em mercadoria e fonte de lucro e riqueza para alguns. De outro, a identidade e a cultura dos povos e grupos sociais que vivem e convivem com a terra e dela cuidam como a mãe natureza.
     Assistimos, hoje, as conseqüências dessa mercantilização da natureza: menos solos disponíveis para a agricultura camponesa e mais solos para o agronegócio e o agrotóxico, aumento dos monocultivos extensivos e intensivos, expansão da mineração, exploração violenta da mão de obra, invasão dos territórios das comunidades tradicionais; menos água de qualidade para a população e mais água para o hidronegócio e os grandes projetos; alternância de secas e enchentes, mais pragas, gerando uma intensa instabilidade na natureza, aumentando a migração e prejudicando a vida nas cidades e a saúde da população.
      Conscientes de que não temos o controle absoluto sobre a Terra, pois dela dependemos para viver e conviver, queremos nos relacionar com ela como criatura e dom, nossa mãe e nossa casa: bonita, aberta a todas as pessoas, sem distinção alguma, pois todos e tudo que existe somos parte essencial da vida que nos foi dada pelo Criador. Por isso, não basta ouvir só o clamor dos filhos da terra. É preciso ouvir o grito ensurdecedor que sai da mãe terra e da irmã água.
      Para preservar a vida do planeta e no planeta, precisamos nos comprometer com a concretização de políticas públicas que garantam a todas as pessoas o direito à água, ao ar puro, ao solo não contaminado, à segurança e a soberania alimentar e à saúde pública de qualidade e universal. Reafirmamos a necessidade ética de preservar o meio ambiente, protegendo e restaurando a diversidade, a integridade e a beleza dos ecossistemas do planeta, vivendo de modo sustentável, promovendo e adotando formas de consumo, produção e comercialização que respeitem e salvaguardem os direitos de todas as pessoas, o bem-estar comunitário e as capacidades regenerativas da terra.
      Reafirmamos que aos indígenas, quilombolas, camponeses, recicladores e demais populações tradicionais cabe um papel vital no cuidado e proteção da Mãe Terra. Elas têm o sagrado direito a preservar sua espiritualidade, seus conhecimentos, suas terras, territórios e recursos.
      O Brasil é o segundo País em concentração da propriedade da terra em todo o mundo. A celebração e a proclamação da nossa fé só serão verdadeiras quando provocarem uma democratização efetiva da terra, dos terrenos urbanos e o acesso a todo o povo brasileiro a água de qualidade.
      Afirmamos que nenhum poder da história conseguirá tirar de Deus estes bens indispensáveis à criação e recriação da vida. Ele, no seu imenso amor e fidelidade, os entregou a todos como sinal da sua bondade e da sua vida e, cabe a nós, o dever de cuidar da terra e da água, defendendo os seus direitos e de todos os seus filhos e filhas.
     É na memória contida na Sagrada Escritura que se baseia a nossa sabedoria e para lá temos sempre que voltar, como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas (Mt 13,52). Essa sabedoria quer se somar à sabedoria que vem das experiências milenares dos diversos povos e dos diversos ramos dos estudos científicos. É assim que, desde o princípio da criação, a força da vida vem enfrentando todas as formas da morte, num processo permanente de criação e recriação, até o fim da história, até que veremos novos céus e nova terra e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor (cf Apoc 21,1.4) e tudo será, definitivamente, bom, muito bom.
                                         Governador Valadares, MG, Brasil, 10 de junho de 2012.
 

segunda-feira, 4 de junho de 2012


Notícias

Deus-conosco para sempre


Ampliar imagem
APROFUNDAMENTO DO TEXTO BÍBLICO (Mateus 28,16-20)
O final do Evangelho condensa toda cristologia e eclesiologia de Mateus. Compreende o último encontro de Jesus com seus discípulos e suas palavras finais à comunidade. A montanha e a Galiléia são lugares de revelação. Distante do centro do poder religioso, Jesus se encontra com toda a comunidade, testemunha de sua ressurreição. Nos vv. 18b-20 são resumidos temas importantes do Evangelho:
1) A autoridade suprema foi dada a Jesus pelo Pai; e com essa autoridade Ele envia toda a comunidade para a missão universal, não mais limitada aos judeus. Não vão ter discípulos próprios, mas fazer discípulos de Jesus.
2) O seguimento de Jesus é partilhado com todas as nações, incentivo à comunidade de Mateus, constituída de judeus; como rito de consagração indica o batismo em nome da Trindade.
3) Jesus ressuscitado é o Deus-conosco para sempre, até o fim do mundo.
Nos evangelhos, a ressurreição é o fim da vida de Jesus e a duração é de apenas um dia. Nos Atos dos Apóstolos, a ressurreição é o começo da missão, com duração de 40 dias, quando Jesus fala do Reino de Deus. O número 40 é simbólico e designa preparação, reeducação, discernimento, e também crise e tentação.
Na Ascensão Jesus não se retira; é exaltado, glorificado. A parusia não é o retorno de um ausente, mas a manifestação gloriosa de Jesus sempre presente na comunidade. A ascensão não significa o fim da história desejada pelos discípulos. É começo da missão em Jerusalém, em toda a Judéia, na Samaria e até os confins da terra. 

ATUALIZANDO
A montanha representa o programa da comunidade que é o mesmo de Jesus. É necessário mexer-se, descer da montanha, baixar os olhos para as realidades deste mundo, indo ao encontro de Jesus na "Galiléia", anunciando suas palavras e ações em favor dos excluídos, exercendo a mesma autoridade dele, que quer salvar a todos. O Ressuscitado é o Emanuel que está no meio de nossas comunidades; sua glória é estar conosco e nós o glorificamos quando o reconhecemos e o aceitamos como Senhor único e absoluto, única Cabeça da Igreja, razão de nossa esperança.

A PALAVRA DE DEUS NA CELEBRAÇÃO
Com Jesus, somos elevados, introduzidos na intimidade do Pai e confirmados na missão como suas testemunhas. Comendo sua carne e bebendo seu sangue, comungamos seu corpo glorioso e já estamos em ascensão, antecipando na esperança a vida plena e definitiva.