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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Para além de uma visão eurocêntrica da Igreja. Entrevista com Timothy Radcliffe


"Precisamos mais do que nunca da vitalidade dos católicos de outros continentes, onde as comunidades muitas vezes são mais jovens e cheias de vitalidade. Eu espero vivamente que um papa latino-americano dê confiança aos católicos daquelas terras, para que encontrem a força para viver sua fé com alegria e criatividade."
Timothy Radcliffe foi Mestre Geral da Ordem Dominicana de 1992 a 2001. É doutor honoris causa em teologia pela Universidade de Oxford e renomado estudioso da Igreja e da sociedade contemporânea.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no blog da Editora Queriniana, 24-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.
O que o senhor pensa desta nova estação da Igreja? O novo Papa Francisco deu alguns sinais, mas mais uma vez os conservadores insistem no fato de que nada mudou, os progressistas já o veem dando passos até muito para a frente... É um pouco sempre a mesma história que se repete ou não?
Naturalmente, cada um examina cada palavra do novo papa para ver se é do "nosso lado" ou não. Isso é profundamente injusto. Francisco precisa de tempo para descobrir o caminho à sua frente, ouvindo o parecer dos seus conselheiros e confiando na oração. Ele vai descobrir lentamente nos meses quão grande é a necessidade de uma mudança.
Espero vivamente que seja um momento de mudança radical. O Papa Francisco sempre enfatiza que ele é acima de tudo o bispo de Roma e desde a primeira noite, na sacada de São Pedro, ele logo definiu o seu antecessor de bispo emérito. Eu acho que ele está tentando se afastar da ideia que governou a Igreja durante séculos de que o papado é uma espécie de monarquia. Ele está tentando posicionar o novo papado dentro do colégio universal dos bispos. Ele quer uma Igreja – pelo menos esta é a minha opinião – que seja mais dialógica entre os seus componentes.
Mas não devemos exagerar ao enfatizar as diferenças entre o Papa Francisco e o seu antecessor, Bento XVI. O Papa Bento XVI acreditava firmemente na importância do diálogo e na necessidade de relações de reciprocidade dentro da Igreja. Ele falou muitas vezes de uma Igreja que deveria refletir o amor da Trindade, que é igual e recíproco entre os seus membros. Algumas escolhas que o Papa Francisco está fazendo poderiam ser justamente a implementação da visão teológica do seu antecessor. É como se considerássemos que cada um tem o seu próprio dom: um para formular a visão teológica, outro para encarná-la.
O senhor viveu em Roma por nove anos (1992-2001) como mestre da Ordem dos Pregadores e conhece bem o centro da Igreja, mas também é de origem inglesa, vive em Oxford e também conhece muito bem o mundo: o que um papa latino-americano pode significar para a Igreja?
Das minhas viagens em todo o mundo, eu aprendi que a Igreja é a instituição mais global do mundo. E assim, para mim, é perfeitamente natural ter um papa que provém da América Latina. O mestre anterior da Ordem Dominicana vinha da Argentina, e o atual é o primeiro da história a ser de origem africana. Certamente isso poderia ser uma surpresa para os europeus que não conhecem a Igreja tão bem.
Mas estou convencido de que a eleição do Papa Francisco realmente irá desafiar uma visão eurocêntrica da Igreja. E esse é um fato formidável. Precisamos mais do que nunca da vitalidade dos católicos de outros continentes, onde as comunidades muitas vezes são mais jovens e cheias de vitalidade. A Igreja Católica na Inglaterra, por exemplo, obteve novas forças dos católicos provenientes da Polônia e da Nigéria. Eles são uma bênção para nós.
Mas espero que a eleição desse papa tenha uma consequência positiva também na América Latina, onde vive hoje o maior número de católicos. Muitas vezes, a Igreja foi ameaçada pelo crescimento das Igrejas pentecostais, que atacam o catolicismo como seitas, pois se baseiam muito em uma forte experiência religiosa. No entanto, muitos convertidos ao movimento pentecostal não duram muito tempo e muitas vezes acabam renunciando totalmente a uma escolha religiosa depois de poucos anos.
E assim acontece que a conversão a uma Igreja pentecostal representa muitas vezes o primeiro passo para a perda total da fé. Portanto, eu espero vivamente que um papa latino-americano dê confiança aos católicos daquelas terras, para que encontrem a força para viver sua fé com alegria e criatividade.
O rabino-chefe, Saks, disse que a Europa está morta, no sentido de que ela não é mais o centro da cultura e da religião no mundo. O senhor acha que os europeus estão conscientes da perda de centralidade das nações europeias? Que papel as populações europeias e cristãs do mundo deveriam adotar? Não nos esqueçamos de que os europeus têm uma longa história e têm familiaridade com as guerras religiosas, o que poderia nos ensinar a não repetir os erros...
Eu conheço e admiro o rabino-chefe, que é um amigo. Mas se ele realmente disse que a Europa está morta, então eu não concordo. É verdade: somos afetados por uma crise econômica e estamos assistindo à ascensão de outras potências econômicas, Brasil, Índia e China (Bric), mas isso não significa que estamos mortos de fato! A Europa ainda é o lugar de encontro de culturas muito diferentes.
Nesta área relativamente pequena do mundo, dispõe-se de uma extraordinária diversidade de culturas, das ricas tradições latinas da Itália e da Espanha, herdeiros da cultura romana, às tradições germânicas, com a sua música e filosofia, às culturas celtas, com sua espiritualidade e arte, às culturas escandinavas, com as suas antigas mitologias e as suas tradições de extrema tolerância. E também a cultura britânica, que eu diria que é maravilhosamente diversificada!
Os Estados Unidos, obviamente, ainda são a superpotência dominante. É difícil dizer se isso vai continuar no futuro, como alguns preveem, ou vai diminuir, como outros pensam. Mas a Europa certamente tem muito a dar, justamente porque é um lugar de encontro de tantas culturas. As nossas cidades estão cheias de pessoas provenientes de todo o mundo, até mesmo da China. A metade das pessoas que estudam para o seu doutorado em matemática em Oxford provêm da China!
E assim, mesmo que talvez tenhamos perdido o primado do poder econômico, ainda temos um papel vital no fato de ajudar as culturas a se compreenderem. Isso também pode enriquecer o cristianismo, porque Cristo é aquele que reúne toda a humanidade em si mesmo e no qual "não há mais judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher". Aprendemos assim tanto sobre a tolerância e a convivência recíprocas que devemos ser capazes de ensiná-las aos outros.
Além disso, como o Papa Bento XVI explicou em várias ocasiões tão bem, temos uma rica tradição filosófica que penetrou profundamente no cristianismo e ele o fez desde o início. A Igreja é herdeira de duas grandes tradições, a fé judaica e a filosofia grega. Eu espero que os cristãos europeus possam compartilhar essa riqueza filosófica com pessoas que vivem no nosso planeta cada vez menor e se comprometam a compreender os desafios do futuro e o que significa ser humano.
Em 2017, ocorre o 500º aniversário da Reforma de Lutero. Nos últimos meses, falou-se da hipótese de admissão de erros de ambas as partes, mas as dificuldades a serem superadas serão enormes. O senhor considera que algo deva ser feito para testemunhar a unidade dos cristãos?
Essa é uma oportunidade maravilhosa para trabalhar pela unidade de todos os cristãos. Para nós, como católicos, essa deve ser considerada uma prioridade especial. O catolicismo dá uma grande importância à unidade da Igreja como sinal e sacramento de unidade de toda a humanidade em Cristo no Reino, como está expressado na Lumen Gentium.
Já fizemos muito admitindo os erros de ambas as partes e para redescobrir a nossa unidade fundamental da fé. Luteranos e católicos chegaram ao acordo de que não existem divisões de fato sobre a questão da salvação somente pela fé. O grande desafio para nós será, então, o de entender o sentido de unidade. Para os católicos, precisamos encontrar um modo para que a figura do papa possa servir à unidade de todos os cristãos, em vez de ser visto como um obstáculo.
O Papa João Paulo II era profundamente consciente desse desafio e nos pediu para refletir sobre ele. O papado não pode nos levar juntos para a unidade se for visto como uma espécie de monarquia. Como eu disse antes, eu acredito que o Papa Francisco está tentando nos levar para além da concepção de uma monarquia papal. E isso poderia realmente se tornar um sinal de esperança ecumênica pela unidade dos cristãos.
Por outro lado, eu penso que as outras Igrejas cristãs precisam entender a importância da unidade doutrinal. Em muitas Igrejas ainda vigora o pressuposto equivocado segundo o qual doutrinas e dogmas são arrogantes e intolerantes. Ao invés, precisamos mostrar a beleza da nossa doutrina, como libertadora das nossas mentes sempre para a busca contínua de uma maior compreensão do mistério de Deus e da salvação.
Se o senhor tivesse que redigir a agenda do papa sobre as ações a serem tomadas para revitalizar a Igreja, o que o senhor colocaria nos três primeiros lugares?
Acho que é preciso deslocar o centro de gravidade da Igreja para mais perto das Igrejas locais. Os bispos precisam ver reconhecida a confiança para tomar decisões sem se sentirem sempre observados de cima por parte de Roma.
Em segundo lugar, na Igreja antiga, havia uma sensação muito forte de que o bispo devia vir da Igreja local: escolhido pela Igreja local e aceito por ela. Com efeito, por muitos séculos, seria totalmente impensável que os bispos pudessem ser simplesmente nomeados por Roma sem o consentimento da Igreja local. Certamente, eu sei bem que o abandono dessa tradição, em certa medida, foi causado pela luta da Igreja para manter a sua liberdade diante do desejo de reis e imperadores e, nas últimas décadas do século passado, dos governos comunistas, todos com a intenção de obter o controle sobre a Igreja e de privá-la da sua liberdade. Uma certa centralização era necessária para que a Igreja permanecesse livre.
Mas agora eu acredito justamente que chegou o momento de voltar para o papel determinante da Igreja local na escolha do próprio bispo. Eu também me pergunto se é bom para os bispos ser transferidos de uma diocese para a outra. Eles usam um anel que é um sinal do seu ser "casados" com a diocese, mas muitas vezes são separados das suas dioceses originais e casados com outras dioceses. Se eles soubessem, ao invés, que permaneceriam em suas dioceses, então poderiam prestar toda a sua atenção. É realmente estranho que se permita que os bispos se divorciem das suas dioceses, mas não se permita às pessoas unidas em matrimônio!
E, em terceiro lugar, precisamos recuperar a forma de governo que era típica dos primeiros séculos do catolicismo, que era uma forma tipicamente sinodal. Por séculos, as decisões importantes foram tomadas dentro de sínodos. Sim, devemos redescobrir uma gestão sinodal da Igreja.
O que poderia trazer uma maior colegialidade dentro da Igreja? Entre papa e bispos, mas também com os leigos, que também têm o direito de se expressar como batizados e filhos de Deus...
A Igreja não é uma monarquia e não é uma democracia. É a comunidade daqueles que são convocados em comunidade pela Palavra do Senhor. Precisamos identificar modalidades de escuta comunitária da Palavra de Deus: ouvindo o Senhor e ouvindo reciprocamente uns aos outros. O beato John Henry Newman, um dos teólogos preferidos do Papa Bento XVI, falou das várias autoridades na Igreja, a da hierarquia, a da razão e da experiência de Deus na oração. Tudo isso nos guia quando ouvimos juntos a Palavra do Senhor. Portanto, precisamos reviver a antiga tradição dos sínodos, em que todo o povo de Deus se reunia para ouvir uns aos outros, assim como se buscava juntos discernir a vontade de Deus
Se o senhor pudesse formular um pedido a cada uma dessas pessoas, o que o senhor diria: ao papa, aos bispos, aos religiosos e religiosas, aos sacerdotes, aos teólogos e teólogas, aos leigos e leigas (famílias, mulheres, jovens...)?
Eu certamente não pretendo fazer pedidos, mas só expressar a minha esperança. O Papa Francisco é um homem maravilhoso, e todos nós fomos abençoados pela sua eleição. A minha esperança é que ele continue assim como começou e que mantenha viva a sua alegria.
A minha esperança é que os bispos ouçam o Espírito Santo, que se derrama sobre todo o povo de Deus. Os bispos são ordenados para ensinar, e um bom ensinamento sempre envolve uma escuta profunda, tanto com relação a Deus, quanto com o seu povo.
Para os padres, a minha esperança é que se deem conta dia após dia de serem ministros da vida plena de Cristo, e que, portanto, precisamos nos deixar tocar pelos dramas da vida cotidiana das pessoas. Devemos, como disse o papa, sentir o cheiro das nossas ovelhas.
A minha esperança é que os teólogos e teólogas permaneçam sempre abertos com relação àqueles com os quais não compartilham as opiniões, mostrando a grandeza dos seus corações e das suas mentes. Não há verdade sem caridade, nem caridade sem verdade.
A minha esperança é que os leigos e leigas cresçam na consciência da beleza da sua vocação de batizados e batizadas. Não há vocação maior. É por isso que eu escrevi o meu último livro, Prendi il largo! [Avancem para águas mais profundas].
O que o senhor acha que deveria ser feito para relançar a Igreja e o cristianismo em uma época de pluralismo cultural e religioso que quase se configura como um supermercado de crenças?
No centro da nossa fé, não há uma escolha de consumidores, mas sim a surpreendente descoberta de que fomos "escolhidos". São João escreve: "Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados" (1Jo 4, 10).
O papel dos pobres, a Igreja dos pobres são palavras do papa, mas também nada mais são do que o ensinamento do Evangelho e de todo o magistério. Como é possível que agora tudo pareça tão novo e empolgante?
Pela primeira vez em décadas, estamos diante da autêntica pobreza na Europa. Na Grã-Bretanha, um país economicamente bom, meio milhão de pessoas têm que contar em bancos solidários de alimentos para sobreviver. E mesmo assim se assiste a uma crescente tendência a desprezar os pobres. Diante da efetiva escassez de postos de trabalho, a opinião pública tem a impressão de que não é culpa deles, que não querem trabalhar ou que são preguiçosos.
E assim a Igreja tem a extraordinária missão de abrir os olhos de todos sobre a dignidade dos pobres, que são a nossa carne e o nosso sangue, e abrir os nossos ouvidos para ouvir o que eles dizem e como vivem. Caso contrário, a sociedade europeia poderia realmente acabar se despedaçando, e as consequências seriam terríveis.
A Igreja muitas vezes é vista como uma organização que promove batalhas morais ou políticas: como restituir ao testemunho evangélico o fato de ser fermento na sociedade? As pessoas se perguntam se é tão importante combater o casamento gay: se alguém não o aprova, que não o peça... parece tão simples!
A Igreja deve manter uma visão moral específica, mas precisa encontrar um modo de não parecer para a maioria que está na defensiva contra a modernidade e, de certo modo, "excludente" a toda modernidade para o ser humano. Isso é difícil de se alcançar. Só se formos vistos fazendo amizade com as pessoas, estando abertos a tudo o que elas vivem, as suas esperanças e as suas lutas, seremos capazes de encontrar uma palavra de novidade e seremos capazes de falar de Deus às pessoas.

Por exemplo, podemos falar de homossexualidade e de casamento gay só na medida em que formos vistos como acolhedores com relação às pessoas homossexuais, ouvindo e apreciando a sua profunda amizade. Só em um momento posterior, teremos assim a oportunidade de ir em busca de palavras que, ao mesmo tempo, sejam fiéis ao Evangelho e autênticas para a vida das pessoas, que então as sentirão como próprias.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Santa Catarina de Sena


– SUA VIDA

1) - Nascimento e primeiros anos
Catarina Benincasa nasceu na aldeia de Fontebranda (Sena-Itália), a 25 de Março de 1347. Era filha de Giácomo Benincasa e de Mona Lapa. Este casal teve 25 filhos, sendo a nossa Santa o 23 ou 24 (nasceram duas gémeas). Entre todos os seus irmãos, Catarina, foi a única dos filhos que sua mãe pôde amamentar com o leite materno. Seu pai, que exercia a procissão de tintureiro, embora não fosse rico, gozava dum modesto rendimento, era muito trabalhador e dedicado à família.
Filha duma família cristã, principiou, desde tenra idade, a sentir grande tendência para a vida de piedade. Aos 5 anos, subia as escadas de joelhos, rezando a cada degrau, uma Ave-maria. Aos 6 anos, o Senhor quis mimoseá-Ia com a sua primeira manifestação sensí­vel: Cristo aparece-lhe sentado num trono, revestido com resplandecentes ornamentos pontificais, tendo a cabeça cingida com uma tiara papal, abençoando-a com a mão direita. Aos 7 anos, fez voto de virgindade, e aos 12, segundo o costume do país e da época, apesar de ser muito criança, seus pais pensaram em casá-la, mas recusou energicamente o matrimónio. No entanto, levada pelos falsos conselhos duma irmã, começou por se deixar mundanizar.
Este período parece ter sido curto. Tratava-se apenas de imperfeições de criança; chorou-o arrependida, durante vários anos. Depois, intensificando as suas penitências, fixou-se numa espécie de vida religiosa, fazendo, mais tarde, os três votos religiosos, que viveu intensamente, apesar de sempre ter vivido no mundo. Durante muitio tempo não tomou outro alimento, excepto pão e ervas cruas.

2) - É recebida na Ordem Terceira ou Laicado de S. Domingos
Enquanto pensava na vida religiosa das grandes Ordens, S. Domingos apareceu-lhe e prometeu-lhe, que, mais tarde ia ser recebida na sua grande família espiritual. Na cidade de Sena havia um numeroso grupo de Terceiras dominicanas, as quais, embora usassem o hábito da Ordem, (chamavam-se Mantellate), viviam em suas próprias casas. Aos 16 anos, depois de muitas instâncias, Catarina foi recebida na Ordem Terceira de S. Domingos, indo-se juntar ao grupo das Mantellate.
As aspirações da nossa Santa foram assim realizadas em plena conformidade com o género de vida que já se havia proposto. Doravante, passou a encerrar-se num pequeno quarto, que lhe fora designado, vivendo aí como eremita, unicamente ocupada das coisas de Deus, saindo apenas à igreja e ainda para orar. Empregava a noite e o dia em colóquios divinos para orar o mais tempo possível. Chegou a dormir apenas meia hora em cada noite.
Catarina era estimulada, no meio deste ambiente, por graças sobrenaturais, sendo visitada pelo próprio Cristo, e também pelos conselhos e exortações dos dominicanos.

3) - Sua vida apostólica
Aos 20 anos, o Senhor ordenou-lhe se dedicasse ao apostolado e daí em diante levasse uma vida mais activa, sem afrouxar a sua intensa vida de oração. Desde então multiplica as suas obras de caridade. Socorre os pobres, cuida dos doentes, manifestando, sobretudo, uma acrisolada abnegação durante o tempo em que a peste invadiu a Itália. Exorta os ímpios à emenda de vida, extingue vinganças e ódios, etc., etc.
Depois de ter obtido a perfeição na fé, pede ao Senhor a perfeição na caridade. Desde então, quantos dela se aproximavam, sem excepção de ninguém, notavam que os acontecimentos exteriores, contradições e sofrimentos, de maneira alguma perturbavam a sua alma. Amava a todos, com um coração verdadeiramente maternal.

4) - Seu entranhável amor à Igreja
Uma das principais características que manifestou em sua vida foi o seu amor e fidelidade à Igreja. Naquele tempo, em que a terrível peste corporal assolava por toda a parte e uma outra peste espiritual, não menos deplorável, provocavam uma enorme decadência no seio da Igreja, Catarina sentiu-se impelida a usar de entranhas maternais para com todos e especialmente para com os doentes fisicamente e também a servir-se da sua intervenção diplomática e política a favor do maior bem da Igreja e da paz entre os Estados. Esta grande actividade foi desenvolvida por Santa Catarina, sob a influência do seu confessor, Beato Raimundo de Cápua, O. P., a partir de 1375 ou 1376. O Papa Gregório XI, à semelhança dos seus predecessores, desde 1309, passara a residir, desterrado, na cidade francesa de Avinhão. As questões da Igreja interessavam intensamente a Catarina. Chegou mesmo a pedir uma cruzada ao Papa Gregório XI, que a decretou (1373), e cuja promulgação, em Itália, foi confiada ao Beato Raimundo. Infelizmente, a guerra entre a República de Florença e a Santa Sé, tornaram esta cruzada pacífica impossível. Este Papa tinha tal confiança na nossa Santa, que a fazia muitas vezes falar em pleno consistório dos cardeais.
Foi a Avinhão, junto de Gregório XI, acompanhada de 22 de seus discípulos (homens e mulheres), convencer o velho Papa a voltar para Roma. As suas súplicas e rogos foram ouvidos: Gregório XI abandonou Avinhão dirigindo-se para Roma, a 13 de Setembro de 1377. E isto, apesar das suas repugnâncias pessoais, da agitação política na Itália e da sua avançada idade. Todos estes pretextos foram vencidos, graças às instâncias de Catarina. Desde que regressou a Roma, a sua acção requerida pelo mesmo Papa, como mensageira da paz e do bem da Igreja, continuou a manifestar-se.
Morto este Papa em 19 de Março de 1378, sucede-lhe Urbano VI. Santa Catarina, que já o conhecia, quando era arcebispo de Arenza, principia a contactar com ele que, apesar do seu áspero temperamento e embora se tratasse duma mulher com fama de santidade, solicita a sua ajuda para bem da Igreja.
A 20 de Setembro de 1378, principiava o grande Cisma do Ocidente que ela profetizara. O anti-papa Clemente VII instalava-se em Avinhão. Estes tristes acontecimentos, cujas consequências para a Igreja e para o mundo foram graves, faziam-na sofrer imenso. Trabalhou quanto pôde para evitar o Cisma, mantendo-se sempre fiel ao legítimo Vigário; de Cristo. Doravante Catarina transpôs contra Clemente VII toda a sua mística cruzada, mas nada conseguiu.

5) - Seus fenómenos místicos extraordinários
Os fenómenos místicos tornaram-se cada vez mais maravilhosos na vida da Santa senense: visões, êxtases, comunhão milagrosa, etc.
O seu jejum de 55 dias contínuos, na Quaresma de 1371, durou desde o Domingo da Paixão até à festa da Ascensão. Neste período de tempo, foi-lhe impossível tomar qualquer género de alimento, excepto a Sagrada Eucaristia, mantendo-se sempre alegre e com perfeita saúde. Aprendeu milagrosamente a ler.
Um dia, suplicando ao Senhor para lhe tirar o seu coração, Cristo apareceu-lhe e Catarina sente que Ele lho havia tirado e lho leva; dois dias depois, o Senhor volta, trazendo-lhe um coração vermelho e brilhante.
Aproximando-se dela e abrindo-lhe o peito, diz-lhe: «Minha filha, há dias, tirei-te o teu coração; agora dou-te o Meu, que doravante te vai servir em vez do teu». Ela, que antes costumava dizer: «Senhor, dou-vos o meu coração», desde então passou a dizer: «Meu Deus, dou-vos o Vosso coração».
Em princípios de 1375, quando pregava uma mística cruzada na cidade de Pisa, intensificava-se no seu íntimo uma profunda devoção à Paixão do Senhor e uma viva aspiração pelo martírio. No 4º Domingo; da Quaresma desse ano, dia 1 de Abril, após o seu confessor ter celebrado missa na Igreja de Santa Cristina daquela cidade, e ter-lhe dado a comunhão, a nossa Santa, como de costume, ficou em profundo êxtase. Voltando a si, chamou o Beato Raimundo, e diz-lhe em voz baixa: «Sabei, Padre que pela misericórdia do Senhor Jesus, possuo em meu corpo as suas chagas».
De facto, havia recebido os estigmas dolorosos da Paixão, mas, segundo a sua narração e a seu pedido, ao ser atingida por cinco raios de sangue, que saíam das chagas do Crucificado, suplicou-lhe que não ficassem visíveis em seu corpo, pois bastava que as trouxesse invisivelmente impressas em sua carne. Então os cinco raios de sangue mudaram-se subitamente em cinco raios brilhantes, atingindo-lhe as mãos, os pés, e o lado. Confessou que sentia uma dor intensíssima, permanecendo vários dias como agonizante. Já anteriormente havia recebido uma chaga (também invisível) na mão direita.
Cristo tinha prometido desposá-la na fé. Este matrimónio místico realizou-se na terça-feira de Carnaval, 2 de Março de 1376. O Senhor dirigiu-lhe estas palavras: «Já que por Meu amor renunciaste a todos os prazeres do mundo e só em Mim te queres regozijar, resolvi desposar-te na fé e celebrar solenemente contigo as minhas bodas...».
E colocou um anel de ouro no dedo da sua esposa.

B – MESTRA DE VIDA ESPIRITUAL

Na família dos Benincasa não houve tempo para aprender a ler. Mas Nosso Senhor, que a levava por caminhos extraordinários, ensinou-a, como já ficou dito, a ler e a escrever. Isto teve lugar durante o curto espaço de um êxtase. Afirmou-o uma testemunha do processo de Canonização, a qual diz que Catarina, ao sair do êxtase, redigiu algumas linhas dirigidas a D. Estêvão de Sena: «Saibas, meu querido filho, que esta carta é a primeira que escrevo em toda a minha vida».
O Senhor ia-a dotando de graças extraordinárias que iriam permitir cumprisse perfeitamente a sua missão para bem da Igreja «Corpo Místico de Cristo» cujos sofrimentos a dilaceravam. Para Catarina «a Igreja era o próprio Cristo», a Igreja não tinha a Paz interna e externa.
Assim lho dissera Jesus: «Minha filha bem-amada, dei-te uma vida nova. A minha graça transbordando, para o teu corpo, comunicar-lhe-á um modo de existência extraordinário e obrarás prodígios maravilhosos... A tua linguagem será outra, o teu espírito esclarecido. Viajarás; viverás entre a multidão; alguns enviar-tos-ei a ti outros enviar-te-ei a eles. Levarás o meu nome aos nobres e aos clérigos e aos Pontífices. Governarás o povo cristão a fim de que a tua fraqueza confunda os orgulhosos. Por tisalvarei muitas almas. Não temas nada, eu estou contigo».
Em parte já o vimos quando falámos da paz que estabeleceu entre cidades em guerra, da influência que exerceu para que o Papa deixasse Avinhão e viesse para Roma, sede da Cristandade. «Voltai-vos todos para Roma... É Cristo que o quer! Assim virá a verdadeira paz...».
Santa Catarina pouco escreveu pelo seu próprio punho; não lhe era possível pela maneira extraordinária de escrever.

1) - Cartas
Com efeito ditava as suas numerosas e variadas cartas, simultaneamente a dois ou três secretários. Ditava sem interrupção e sobre assuntos diferentes e a pessoas também diferentes: ao Papa, a Cardeais, a eclesiásticos e a leigos de ambos os sexos. Totalizam mais de 400 (5 volumes), sem investigar e sem que frase alguma seja inútil. Terminava-as com esta fórmula: «Permanecei na santa e doce dilecção de Deus. Doce Jesus, Jesus amor». Através delas foi uma insigne directora de almas a quem os seus dirigidos chamavam a «santa» a «dolcíssima Mamma».

2) - Orações
São em número de 26. Foram pronunciadas por Santa Catarina e escritas pelos seus discípulos. Datam dos últimos anos da sua vida, e, repletas de unção e fervor, revelam a profunda intimidade que alimentava com Deus, Jesus e a Virgem Maria.

3) - O Diálogo
Porém, a obra mais extraordinária é o Diálogo, inteiramente ditado em êxtase e contém o que o eterno Pai se dignou camunicar-lhe nesses momentos.
Foi composto no espaço de 5 dias e calcula-se que tenha levado uma média de 5 horas de ditado cada dia. Começou-o num sábado, 9 de Outubro de 1378, e provavelmente estava terminado no dia 13 desse mês.
Santa Catarina não deu, em rigor; um título à sua obra. Os contemporâneos chamaram-lhe: Tratado da Divina Providência ou Livro da Misericórdia e deram-lhe o subtítulo de: Livro da Doutrina Divina.
O assunto são quatro pedidos que ela dirige a Deus Pai:
1) - Para si: Adquirir o conhecimento da verdade;
2) - Para o mundo: Que Deus fizesse misericórdia ao mundo;
3) - Para a Santa Igreja: a) - Que Deus viesse em auxílio da Igreja; b) - Que a sua Providência se estenda a todas as coisas;
Com o andar dos tempos o Diálogo teve numerosíssimas edições e traduções, mesmo em português, assim como as Orações e as Cartas, pelo menos em parte.
A sua doutrina não foi adquirida, mas infusa; ela foi mais mestra do que discípula.

C – SANTA MORTE
Morreu em Roma, em 1380, a 29 de Abril, estando presentes a sua mãe, e muitos dos seus discípulos, homens e mulheres. Foi sepultada na Igreja de Santa Maria da Minerva. O Papa Pio II, a 29 de Junho de 1461, elevou-a às honras dos altares e Paulo VI, a 4 de Outubro de 1970, proclamou-a «Doutora da Igreja», que iluminou e ilumina com sua vida santa e sua doutrina toda do céu. No ano 2000 o Papa João Paulo II proclamou Santa Catarina de Sena co-padroeira da Europa juntamente com Santa Teresa Benedita da Cruz e Santa Brígida da Suécia.
«Jamais homem algum falou assim; - diziam os Cardeais – não é uma mulher que fala; é o Espírito Santo que fala pela sua boca».
No cumprimento da missão que Deus lhe confiara, - disse o P. Monléon, O. P. - manifestou-se «como redentora do Pontificado e defensora da Igreja; pacificadora de povos, e unificadora de antagonismos; promotora de cruzadas e condutora de multidões; directora de almas e mestra de santidade; restauradora da moral pública, da justiça social e da piedade familiar; doutora do estudo teológico, da vida mística, do gosto literário e do renascimento das artes...».

domingo, 7 de abril de 2013

A missão da comunidade (Jo 20,19-23)


A missão da comunidade (Jo 20,19-23) - Mesters, Lopes e Orofino


A PAZ ESTEJA COM VOCÊS!
(João 20,19-23)

Texto extraído do livro "Raio-X da Vida -  Círculos Bíblicos do Evangelho de João". Coleção A Palavra na Vida 147/148. Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.
Mais informações pelo endereço vendas@cebi.org.br

1. OLHAR DE PERTO AS COISAS DA NOSSA VIDA 
Somos convidados a meditar sobre a aparição de Jesus ao discípulos e a missão que eles receberam. Eles estavam reunidos com as portas fechadas porque tinham medo dos judeus. De repente, Jesus se coloca no meio deles e diz: "A paz esteja com vocês!" Depois de mostrar as mãos e o lado, ele diz novamente: "A paz esteja com vocês! Como o pai me enviou, eu envio vocês!" Em seguida, lhes dá o Espírito Santo para que possam perdoar e reconciliar. A Paz! Reconciliar e construir a paz! Esta é a missão quer recebem.

2. COMENTANDO
João 20,19-21: A experiência da ressurreição
Jesus se faz presente na comunidade. As portas fechadas não podem impedir que ele esteja no meio dos que nele acreditam. Até  hoje é assim! Quando estamos reunidos, mesmo com todas as portas fechadas, Jesus está no meio de nós. E até hoje, a primeira palavra de Jesus é e será sempre: "A paz esteja com vocês!" Ele mostrou os sinais da paixão nas mãos e no lado. O ressuscitado é o crucificado! O Jesus que está conosco na comunidade não é um Jesus glorioso que não tem mais nada em comum com a vida da gente. Mas é o mesmo Jesus que viveu nesta terra, e traz as marcas da sua paixão. As marcas da paixão estão hoje no sofrimento do povo, na fome, nas marcas de tortura, de injustiça. É nas pessoas que reagem, lutam pela vida e não se deixam abater que Jesus ressuscita e se faz presente no meio de nós.
João 20,21: O envio - "Como o Pai me enviou, eu envio vocês!"
É deste Jesus, ao mesmo tempo crucificado e ressuscitado, que recebemos a missão, a mesma que ele recebeu do Pai. E ele repete: "A paz esteja com vocês!" Esta dupla repetição acentua a importância da paz. Construir a paz faz parte da  missão. Paz significa muito mais do que só ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo todas o necessário para viver, conviver felizes e em paz. Esta foi a missão de Jesus, e é também a nossa missão. Numa palavra, é criar comunidade a exemplo da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
João 20,22: Jesus comunica o dom do Espírito
Jesus soprou e disse: "Recebei o Espírito Santo". É só com a ajuda do Espírito de Jesus que seremos capazes de realizar a missão que ele nos dá. Para as comunidades do Discípulo Amado, Páscoa (ressurreição) e Pentecostes (efusão do Espírito) são a mesma coisa. Tudo acontece no mesmo momento.
João 20,23: Jesus comunica o poder de perdoar os pecados
O ponto central da missão de paz está na reconciliação, na tentativa de superar as barreiras que nos separam: "Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados e aqueles a quem retiverdes serão retidos!" Este poder de reconciliar e de perdoar é dado à comunidade (Jo 20,23; Mt 18,18). No Evangelho de Mateus é dado também a Pedro (Mt 16,19).  Aqui se percebe a enorme responsabilidade da comunidade. O texto deixa claro que uma comunidade sem perdão nem reconciliação já não é a comunidade cristã.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O significado das cinzas




O uso litúrgico das cinzas tem sua origem no Antigo Testamento. As cinzas simbolizam dor, morte e penitência. Por exemplo, no livro de Ester, Mardoqueu se veste de saco e se cobre de cinzas quando soube do decreto do Rei Asuer I (Xerxes, 485-464 antes de Cristo) da Pérsia que condenou à morte todos os judeus de seu império. (Est 4,1). Jó (cuja história foi escrita entre os anos VII e V antes de Cristo) mostrou seu arrependimento vestindo-se de saco e cobrindo-se de cinzas (Jó 42,6). Daniel (cerca de 550 antes de Cristo) ao profetizar a captura de Jerusalém pela Babilônia, escreveu: "Volvi-me para o Senhor Deus a fim de dirigir-lhe uma oração de súplica, jejuando e me impondo o cilício e a cinza" (Dn 9,3). No século V antes de Cristo, logo depois da pregação de Jonas, o povo de Nínive proclamou um jejum a todos e se vestiram de saco, inclusive o Rei, que além de tudo levantou-se de seu trono e sentou sobre cinzas (Jn 3,5-6). Estes exemplos retirados do Antigo Testamento demonstram a prática estabelecida de utilizar-se cinzas como símbolo (algo que todos compreendiam) de arrependimento.

O próprio Jesus fez referência ao uso das cinzas. A respeito daqueles povos que recusavam-se a se arrepender de seus pecados, apesar de terem visto os milagres e escutado a Boa Nova, Nosso Senhor proferiu: "Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e as cinzas. (Mt 11,21) A Igreja, desde os primeiros tempos, continuou a prática do uso das cinzas com o mesmo simbolismo. Em seu livro "De Poenitentia" , Tertuliano (160-220 DC), prescreveu que um penitente deveria "viver sem alegria vestido com um tecido de saco rude e coberto de cinzas". O famoso historiador dos primeiros anos da igreja, Eusébio (260-340 DC), relata em seu livro A História da Igreja, como um apóstata de nome Natalis se apresentou vestido de saco e coberto de cinzas diante do Papa Ceferino, para suplicar-lhe perdão. Sabe-se que num determinado momento existiu uma prática que consistia no sacerdote impor as cinzas em todos aqueles que deviam fazer penitência pública. As cinzas eram colocadas quando o penitente saía do Confessionário.

Já no período medieval, por volta do século VIII, aquelas pessoas que estavam para morrer eram deitadas no chão sobre um tecido de saco coberto de cinzas. O sacerdote benzia o moribundo com água benta dizendo-lhe: "Recorda-te que és pó e em pó te converterás". Depois de aspergir o moribundo com a água benta, o sacerdote perguntava: "Estás de acordo com o tecido de saco e as cinzas como testemunho de tua penitência diante do Senhor no dia do Juízo?" O moribundo então respondia: "Sim, estou de acordo". Se podem apreciar em todos esses exemplos que o simbolismo do tecido de saco e das cinzas serviam para representar os sentimentos de aflição e arrependimento, bem como a intenção de se fazer penitência pelos pecados cometidos contra o Senhor e a Sua igreja. Com o passar dos tempos o uso das cinzas foi adotado como sinal do início do tempo da Quaresma; o período de preparação de quarenta dias (excluindo-se os domingos) antes da Páscoa da Ressurreição. O ritual para a Quarta-feira de Cinzas já era parte do Sacramental Gregoriano. As primeiras edições deste sacramental datam do século VII. Na nossa liturgia atual da Quarta-feira de Cinzas, utilizamos cinzas feitas com os ramos de palmas distribuídos no ano anterior no Domingo de Ramos. O sacerdote abençoa as cinzas e as impõe na fronte de cada fiel traçando com essas o Sinal da Cruz. Logo em seguida diz: "Recorda-te que és pó e em pó te converterás" ou então "Arrepende-te e crede no Evangelho".

Devemos nos preparar para o começo da Quaresma compreendendo o significado profundo das cinzas que recebemos. É um tempo para examinar nossas ações atuais e passadas e lamentarmo-nos profundamente por nossos pecados. Só assim poderemos voltar nossos corações genuinamente para Nosso Senhor, que sofreu, morreu e ressuscitou pela nossa salvação. Além do mais esse tempo nos serve para renovar nossas promessas batismais, quando morremos para a vida passada e começamos uma nova vida em Cristo.

Finalmente, conscientes que as coisas desse mundo são passageiras, procuremos viver de agora em diante com a firme esperança no futuro e a plenitude do Céu.
 
Aceitando que nos imponham as cinzas, expressamos duas realidades fundamentais:

1. Somo criaturas mortais; tomar consciência de nossa fragilidade, de inevitável fim de nossa existência terrestre, nos ajuda a avaliar melhor os rumos que compete dar à nossa vida: "você é pó, e ao pó voltará" (Gn 3, 19). Somo chamado;

2. Somos chamados a nos converter ao Evangelho de Jesus e sua proposta do Reino, mudando nossa maneira de ver, pensar, agir.

Veja mais embasamentos bíblicos sobre as cinzas através das seguintes passagens: (Nm 19; Hb 9,13); como sinal de transitoriedade (Gn 18,27; Jó 30,19). Como sinal de luto (2Sm 13,19; Sl 102,10; Ap 19,19). Como sinal de penitência (Dn 9,3; Mt 11,21). 

Fonte: Missal Dominical, Paulus, 1997, p. 140.
Sugestão de leitura para sua quaresmaJESUS DA ESCUTA AMOROSA, de Carlos Mesters e Márcio Lúcio de Miranda
Fonte: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=8&noticiaId=1818